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Contra Fake News, compartilhe notícias oficiais

Prefeitura propõe à sociedade só compartilhar suas notícias oficiais contra supostas Fake News ler

05 de março de 2020 - 15:47

A Prefeitura de Marília desencadeou uma campanha nas redes sociais do município conclamando a população para que “Compartilhe as nossas Notícias!”. A medida é um “Diga Não ao Fake News”.

O texto da campanha publicitária afirma o seguinte:

“Propagar falsas notícias é muito fácil. E combatê-las também!

Procure sempre se informar por meio de canais oficiais e por veículos de comunicação de credibilidade.

Para saber sobre notícias da Prefeitura, por exemplo, acompanhe nossas páginas oficiais nas redes sociais, o site da Administração e os nossos informativos. Tudo sobre as nossas ações estará nesses locais.

#PrefeituraDeMarília #ConstruindoOFuturoHoje #contraFakeNews”

Observem o absurdo: na nossa cidade, a própria Prefeitura age para inflar a bolha informacional oficial criada por ela mesma, via suas redes sociais, e pela replicação da sua única verdade nas empresas de mídia “de credibilidade”. Nós já divulgamos aqui o quanto as empresas da mídia mariliense recebem dos cofres públicos (dinheiro nosso) para permitir que o gabinete do Prefeito “use” de seus espaços privados para a divulgação de notícias oficiais, geralmente sem a crítica fundamental e inerente ao jornalismo.

Para piorar, simultaneamente, a Prefeitura “rifa” esse jornalismo crítico, tirando-lhe a verniz da credibilidade em prol das suas próprias informações “oficiais”. Como se já não bastasse, ainda pede ao cidadão que se informe somente em seu site ou páginas oficias nas redes sociais, inclusive com campanhas para isso, como vimos acima.

1984

A proposta acima é muito séria. Porque procura reproduzir na realidade mariliense a narrativa presente no livro 1984 de George Orwel.

Nesta obra, o autor descreve como o Estado autoritário-totalitário promove a pós-verdade oficial por meio da institucionalização do engano oficial, da vigilância secreta sobre os cidadãos e da manipulação da história registrada conforme os interesses daquele que está no poder.

É exatamente isto que a campanha da Prefeitura está pretendendo alcançar. Inclusive, não devemos esquecer que o prefeito tentou adquirir por meio da filha emissoras de rádio e manteve durante um tempo um canal de TV. As pretensões autoritárias e totalitárias já pareciam presentes ali.

Mas qual é a imprensa que importa?

A imprensa que importa tem que ser independente, pois ela deve ser responsável pela checagem dos fatos e pela construção de narrativas baseadas na realidade, nas provas, documentos etc. O papel da imprensa independente é contestar o poder em favor da sociedade.

Max Weber, sociólogo alemão, ainda no século XIX disse que

“A necessidade de ganhar a vida escrevendo artigos diários é como um chumbo nos pés dos políticos”.

Esta máxima atual só é validada se a imprensa for livre e independente. Do contrário, o trabalhador jornalístico ganha cada vez menos na medida em que o capitalista da imprensa ganha influência política. Visto que ele passa a cumprir duas funções: ora fomenta a indiferença política, ora pratica o sensacionalismo.

Weber assevera ainda que

“O sensacionalismo não tem sido o caminho para a verdadeira liderança ou para a administração responsável da política”.

A imprensa de credibilidade “oficial” é aquela que, ao mesmo tempo, fomenta a indiferença política e pratica o sensacionalismo. Lamentável essa postura de intransigência da atual administração ao contraditório.

Mais do que nunca, a sociedade mariliense necessita da imprensa livre, com equipe editorial qualificada, para investigar, redigir e publicar conteúdos noticiosos galgados na informação precisa e verdadeira.

Até porque os canais oficiais da Prefeitura e a tal imprensa de credibilidade, no linguajar “danielesco”, jamais publicariam:

É dever de toda instituição pública, por lei, publicizar todos os seus atos. E é dever, por cidadania, que esses atos passem pelo crivo do povo. À sociedade, todo o direito de fazer perguntas. À Administração Pública, a obrigação de responder a todas. E ao jornalismo crítico, uma imprensa livre.

Aliás, vale perguntar: você leu sobre este assunto nos canais oficiais de informação? E nas empresas de mídia de credibilidade? Agora você já sabe qual imprensa importa de verdade.

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