STF Debate a Constitucionalidade do Marco Civil da Internet
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O debate gira em torno do artigo 19 e das Responsabilidades das Redes Sociais ler
O Que Está em Jogo?
O julgamento, iniciado em 27 de novembro e com previsão de conclusão neste mês, analisa recursos que questionam a aplicação do artigo 19 do Marco Civil da Internet. Essa lei, sancionada em 2014, funciona como uma “Constituição da Internet”, estabelecendo direitos e deveres para usuários e provedores.
O artigo 19 isenta plataformas digitais de responsabilidade por conteúdos postados por terceiros, salvo nos casos em que descumpram uma ordem judicial para remover os materiais apontados como ilícitos. O STF agora avalia se essa regra é compatível com a Constituição ou se precisa ser modificada para permitir responsabilização das empresas sem necessidade de decisão judicial.
Ações em Pauta
Os ministros analisam quatro casos principais:
- Recurso do Facebook (Meta): Questiona a constitucionalidade do artigo 19 após uma decisão judicial que obrigou a rede a remover um perfil falso e fornecer dados do usuário responsável.
- Recurso do Google: Envolve ofensas postadas em uma comunidade do extinto Orkut, criadas antes da entrada em vigor do Marco Civil.
- Aplicação do Marco Civil em Bloqueios: Ação que discute o uso da lei para fundamentar bloqueios de aplicativos, como ocorreu com o WhatsApp em 2016.
- Validade de Bloqueios Judiciais: Questão sobre a legitimidade de decisões judiciais que determinam suspensão de plataformas digitais.
Quem Está Envolvido
O relator Dias Toffoli, que apresentou parte de seu voto, destacou a falência do modelo de autorregulação das redes, evidenciado por episódios como os ataques antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. Na ocasião, transmissões ao vivo desses eventos demoraram a ser removidas, expondo falhas nos sistemas das plataformas.
O ministro Alexandre de Moraes afirmou que “o sistema de autorregulação não funciona” e ressaltou que as redes sociais lucram com conteúdos que promovem ódio e desinformação. Outros ministros, como Luiz Fux, devem se pronunciar na sequência, com perspectivas de votos que podem estabelecer novos critérios de moderação e responsabilização.
Argumentos na Mesa
Defensores da Revogação do Artigo 19:
- A Advocacia-Geral da União (AGU) defende a responsabilização direta das plataformas em casos de conteúdos que violem direitos fundamentais.
- Organizações de defesa dos direitos digitais apontam que a regra atual perpétua danos às vítimas, especialmente em contextos de discursos de ódio, fake news e exploração infantil.
Defensores da Manutenção do Artigo 19:
- Representantes de big techs, como Meta e Google, alegam que a exigência de remoção sem ordem judicial pode levar à censura prévia e comprometer a liberdade de expressão.
- Especialistas alertam que mudanças podem criar um ambiente de insegurança jurídica, com aumento de processos judiciais e custos operacionais para as empresas.
Impactos da Decisão
A decisão do STF terá repercussão geral, ou seja, valerá para todos os processos similares em tramitação no Brasil, que somam ao menos 345 casos, segundo o Conselho Nacional de Justiça. Além disso, o julgamento pode influenciar o debate sobre o Projeto de Lei das Fake News, atualmente em discussão no Congresso Nacional.
Se o artigo 19 for revogado ou modificado, as plataformas digitais precisarão adotar medidas mais rigorosas de moderação de conteúdos, o que pode alterar profundamente o modo como operam no Brasil.
Marco Civil da Internet: Um Marco em Discussão
Aprovado em 2014, o Marco Civil da Internet é frequentemente elogiado como uma legislação pioneira, mas muitos consideram que precisa de atualização diante das novas dinâmicas digitais. O artigo 19 foi pensado para proteger a liberdade de expressão, mas críticos afirmam que sua aplicação pode negligenciar a urgência de reparos a danos causados por conteúdos prejudiciais.
Próximos Passos
O julgamento será retomado hoje com a conclusão do voto do relator Dias Toffoli, seguido pela análise dos demais ministros. A decisão final deverá ser anunciada até o final de dezembro, com efeitos práticos previstos para o próximo ano.
Redator: Ruan Cezar Santos Barbosa
Revisor: Guilherme Silva Domingues
Foto de Jeso Carneiro na Flickr