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Literatura

Livro traça a história musical da América Latina

Latinidades aposta na pluralidade irregular de olhares para eleger obras que marcaram a música do continente ler

09 de fevereiro de 2023 - 12:00

Existem duas certezas sobre listas. A primeira é que elas causarão discórdia. A segunda é que revelarão mais sobre seus criadores do que sobre o assunto do qual tratam.

Não é diferente com Latinidades – 100 Anos em 100 Discos, publicação do Memorial da América Latina que propõe um sobrevoo pela música feita na região entre 1922 e 2022. Foram convidados para o livro cinco curadores, entre acadêmicos, jornalistas e músicos, cada um deles responsável por 20 anos de artistas, canções e álbuns. O resultado oferece ao leitor um panorama do que foi feito nestes 100 anos do México até a Argentina, mas não deixa de ser um voo turbulento.

Com cada curador em seu respectivo quadrado, e aparentemente sem conversar um com o outro, o livro se destaca por sua irregularidade. O critério de escolha dos artistas e discos surge evidentemente pessoal, o que não é necessariamente um problema, mas causa estranheza saltar de uma década para outra e as listas mudarem às cambalhotas. De 20 em 20 anos o que o leitor tem diante dos olhos é uma nova historiografia e uma linha evolutiva diferente da música popular latino-americana, nas quais fundadores não produzem discípulos, aprendizes não encontram mestres e ausências inexplicáveis saltam no tempo para emergir como presenças inconcebíveis.

O problema não é do time de curadores – cada um carregando sua própria bagagem musical e competente para costurar seu próprio parangolé da música da região –, mas da colcha de retalhos que o trabalho (des)conjunto produz. Todos os nomes têm gabarito e é louvável o esforço de misturar o conhecimento acadêmico ao prático, o saber jornalístico ao conteúdo dos bastidores. Mas faltou mesmo fazer de tudo isso uma geleia geral, relembrando Gilberto Gil e Torquato Neto.

Cabe a Waldenyr Caldas, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e pesquisador da música popular, tratar dos primeiros 20 anos, o intervalo entre 1922 e 1941. Logo de cara o primeiro ruído: o próprio Caldas anuncia que não apresentará os discos mais importantes do período, já que o long-play (LP) ainda não havia sido criado. Com isso, o professor traça um apanhado histórico abrangente de artistas, compositores e músicas da época, em um dos maiores esforços de internacionalização do livro, que pouco a pouco vai agigantando a presença brasileira na lista.

Com Caldas, apenas Noel Rosa, Ary Barroso, Pixinguinha e Braguinha representam o Brasil. Ganham destaque Libertad Lamarque, cantora de Caminito, um dos tangos prediletos de Jorge Luis Borges, Carlos Gardel, o maior intérprete das canções argentinas, e Ignacio Corsini, parte do panteão dos grandes cantores do tango. Da Bolívia, o pesquisador resgata Alberto Ruiz Lavadenz e sua Lira Incaica, especializados em temas indígenas andinos. Bienvenido Granda, autor de Perfume de Gardênia, coloca Cuba e o bolero na lista.

Há também espaço para José Asuncíon Flores, paraguaio responsável pela criação do ritmo conhecido como guarânia e autor de Índia, canção incorporada ao repertório sertanejo brasileiro. A Guatemala também é lembrada, com Martha Bolaños de Prado e Paco Pérez, assim como o México, representado por Carlos Chávez. Há espaço ainda para os equatorianos Los Nativos Andinos e Carlotta Jaramillo.

Juca Novaes é o próximo curador do volume, responsável pela música de 1942 até 1961. Cantor, compositor, produtor, advogado especializado em direito autoral e criador do grupo Trovadores Urbanos, Novaes inicia a fagocitação brasileira da lista, reservando metade dos seus escolhidos para o Brasil. Aqui, pelo menos, os discos prometidos no título da publicação começam a aparecer.

Apesar da prevalência brasileira, o panorama internacional do curador não deixa de interessar. Abre com Afro Cuban Music (1947), primeiro LP a registrar a fusão de ritmos afro-cubanos, jazz e arranjos de big band, experimentos gestados por Miguelito Valdés e Machito e seus Afro-cubanos desde o início dos anos 1940 e conhecidos como cubop. Segue para Sones of Mexico (1950), LP de dez polegadas do Trio Aguilillas, responsável pela divulgação da música regional mexicana. Daí segue para Una Voz y Una Guitarra (1953), primeiro disco do argentino Atahualpa Yupanqui, grande pesquisador de música folclórica e admirado por Elis Regina, que registrou sua canção Los Hermanos no álbum Falso Brilhante (1976).

Do venezuelano Aldemaro Romero temos Dinner in Caracas (1954), trabalho lançado nos Estados Unidos e que se propôs a modernizar a música folclórica da Venezuela, apresentando-a com versões orquestrais completas. Da América do Sul, Novaes resgata também Mambo! (1954), obra da peruana Yma Sumac, dona de uma voz extraordinária e um disco quase experimental, no qual sons da floresta tropical parecem surgir de sua boca. Dentre os demais selecionados, há ainda espaço para a chilena Violeta Parra e seu Cantos de Chile (1956), registro parisiense de canções folclóricas gravadas apenas com violão e voz, e o rei do mambo Tito Puente, estadunidense de origem porto-riquenha responsável por Dance Mania (1958).

Quando trata do Brasil, Novaes apresenta nomes consagrados da historiografia da música popular brasileira, trazendo alguns dos álbuns que encabeçam listas de melhores da história. É o caso de Canções Praieiras (1954), de Dorival Caymmi, A História do Nordeste na Voz de Luiz Gonzaga (1956), Saudosa Maloca (1957), dos Demônios da Garoa, Canção do Amor Demais (1958), de Elizeth Cardoso, e Chega de Saudade (1959), de João Gilberto.

Willy Verdaguer, músico, maestro e arranjador argentino radicado no Brasil, é quem compõe a lista de 1962 até 1981. Fundador do grupo Raíces de América, Verdaguer também integrou os Beat Boys – grupo atuante com os tropicalistas durante a época dos festivais – e participou da gravação de discos dos Secos & Molhados. Com isso, o músico carrega a seleção com lembranças oriundas de seu próprio testemunho ocular e oferece um recorte particularíssimo do período.

É assim que aparecem na lista o disco de estreia dos Mutantes (1968), Tropicália ou Panis at Circensis (1968), Acabou Chorare (1972), dos Novos Baianos, o primeiro dos Secos & Molhados (1973, mas datado erroneamente como 1978 no livro), Falso Brilhante (1976), de Elis Regina, e o próprio Raíces de América (1980). Também estão lá os onipresentes Construção (1971), de Chico Buarque, Clube da Esquina (1972), de Milton Nascimento e Lô Borges, e Gita (1974), de Raul Seixas, além dos excelentes, porém menos badalados, Revolver (1975), de Walter Franco, e A Página do Relâmpago Elétrico (1977) de Beto Guedes.

O repertório internacional de Verdaguer traz Santana (1969), primeiro disco do guitarrista mexicano Carlos Santana, Adiós Nonino (1972), do argentino Astor Piazzolla, e Santa María de Iquique (1970), cantata popular do grupo folclórico chileno Quilapayún, que trata da história verídica de um massacre contra trabalhadores ocorrido em 1907. O curador inclui também Artaud (1973), disco da banda Pescado Rabioso, liderada pelo pioneiro do rock argentino Luis Alberto Spinetta, e La vida no vale nada (1976), do cubano Pablo Milanés, cuja Canción por la Unidad Latinoamericana se tornou hino das esquerdas e mereceu gravação nas vozes de Milton Nascimento e Chico Buarque. Encontramos ainda a presença da argentina Mercedes Sosa, com seu álbum ao vivo gravado no Brasil (1980), e Rubén Blades e Willie Colón, o primeiro panamenho, o segundo estadunidense de origem porto-riquenha, autores de Siembra (1978), um dos discos de salsa mais vendidos da história.

Para falar do período compreendido entre 1982 a 2001, o Memorial da América Latina convidou alguém que esteve no olho do furacão musical dessas duas décadas: João Barone, integrante dos Paralamas do Sucesso. O baterista opta por centrar sua contribuição na onda roqueira que explodiu na região e oferece aqui a lista menos centrada no Brasil, elegendo cronologicamente um disco por ano.

Barone abre os trabalhos com Yendo de la Cama al Living (1982), a estreia solo do ídolo argentino Charly García, álbum lançado na ressaca da infame Guerra das Malvinas e nos espasmos finais da ditadura militar instalada em 1976. Vai então para o Chile, com o seminal La Voz de los 80 (1984), outra estreia, dessa vez de Los Prisioneros, punk rock com críticas explícitas ao governo ditatorial de Pinochet. Segue novamente para a Argentina com Nada Personal (1985), do Soda Stereo, uma das bandas de rock latino de maior popularidade e influência no continente (exceto no Brasil, onde infelizmente tratamos a diferença de idiomas como nosso muro de Berlim cultural).

A lista continua com os mexicanos Los Lobos em La Bamba (1987), trilha sonora do filme que conta a história de Ritchie Valens, um dos pioneiros do rock nos anos 1950. Passa para El Amor Después del Amor (1991), de Fito Páez, simplesmente o disco de rock mais vendido da Argentina, e volta para o México com Avalancha de Éxitos (1996), do Café Tacvba. Os brasileiros surgem timidamente com Lado B Lado A (1999), do Rappa, e Bloco do Eu Sozinho (2001), dos Los Hermanos.

Mas dizer que Barone pinça apenas o rock latino-americano na sua seleção seria injustiça. Aparece também Bachata Rosa (1990), de Juan Luis Guerra, músico da República Dominicana que representa a música tradicional caribenha e emplacou o hit Borbujas de Amor, com versão brasileira gravada por Fagner. Outra artista de vendagens astronômicas na lista é a colombiana Shakira, com seu terceiro álbum, Pies Descalzos (1995), responsável por seu sucesso internacional capitaneado pela canção Estoy Aquí. Mais um mega star escalado pelo baterista é Rick Martin, que com Vuelve (1998, mas creditado mais uma vez erroneamente como 1990) gravou o tema da Copa do Mundo de 1998, La Copa de la Vida. Barone também não esquece o álbum coletivo Buena Vista Social Club (1997), o histórico resgate dos artistas da música tradicional cubana.

Quem encerra o livro é Felipe Machado, jornalista, escritor, músico e um dos fundadores da banda Víper. Machado recebe a cítrica tarefa de falar do presente, quando não existem cânones e toda relação de “melhores”, “mais importantes” ou “mais representativos” é uma aposta arriscada, pronta para caducar daqui a alguns anos ou transformar seu formulador em visionário. Em sua escolha predomina a diversidade de estilos, contudo, mais uma vez, a ênfase tomba para o Brasil (são 14 álbuns do País).

É assim que o samba começa a seleção, com Deixa a Vida me Levar (2002), de Zeca Pagodinho, e segue para Tribalistas (2002), projeto de Arnaldo Antunes, Marisa Monte e Carlinhos Brown que se tornou um fenômeno não só no Brasil, mas também em Portugal, Itália e Espanha. A mistura de rap e samba produzida por Marcelo D2, egresso do Planet Hemp, é lembrada com À Procura da Batida Perfeita (2003), e outra fusão – desta vez, dos timbres eletrônicos com influências da bossa nova – aparece em Céu (2005), disco homônimo da cantora paulistana.

Esforços contemporâneos de artistas consagrados da MPB dão as caras na lista de Machado. É o caso de Cê (2006), a aventura rock-based de Caetano Veloso, Estudando o Pagode (2005), continuação experimental do clássico Estudando o Samba (1976), de Tom Zé, e A Mulher do Fim do Mundo (2015), a consagração definitiva de Elza Soares, que já era mais do que consagrada e, mesmo sem precisar provar nada para ninguém, gravou um clássico imediato da música brasileira.

Mas Machado também não se esquece de quem surgiu há menos tempo no cenário e, com isso, provoca o leitor a reconhecer ou refutar seus escolhidos. É aí que entram Anitta (2013), disco de estreia da cantora carioca que se tornou a mais ouvida do mundo no Spotify, AmarElo (2019), o hip-hop lírico de Emicida, embalado pelas rimas de Belchior, e Todos os Cantos – vol. 1 (2019), álbum polvilhado de singles de Marília Mendonça, rainha do sertanejo feminista que se foi deixando muita coisa ainda por fazer.

Dos internacionais, o jornalista destaca, entre outros, Revolución de Amor (2002), dos mexicanos do Maná, outro álbum de Fito Páez, Naturaleza Sangre (2003), e Eco2 (2005), do uruguaio Jorge Drexler, autor de Al Otro Lado del Río, tema do filme Diários de Motocicleta e primeira música em espanhol a ganhar o Oscar de melhor canção original.

Fabrício Ravelli, diretor de Atividades Culturais da Fundação Memorial da América Latina e autor da introdução ao livro, escreve que o leitor poderá questionar os álbuns incluídos na listagem. Diz que, se isso acontecer, o objetivo foi alcançado. Pleno acordo. A melhor função de listas de “melhores”, “maiores” e “definitivos” é estimular nossa própria imaginação e instigar o debate. Nesse ponto, o papel do volume está pago. Mas, justamente, por isso, uma iniciativa desse porte merecia um pouco mais de cuidado curatorial e editorial. Quem sabe em uma segunda edição?

Latinidades – 100 Anos em 100 Discos, Memorial da América Latina, 136 páginas.

Fonte: Jornal da USP – Texto: Luiz Prado / Arte: Rebeca Fonseca

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