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Flávio Bolsonaro financiou prédios ilegais das milícias no Rio com “rachadinhas”

Documentos sigilosos do MP indicam que Flávio Bolsonaro financiou e lucrou com construção ilegal de prédios pelas milícias com dinheiro público das "rachadinhas" ler

25 de abril de 2020 - 14:37

O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos – RJ), filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro, está sendo acusado de que teria financiado e obtido lucros com a construção de prédios ilegais pela milícia do Rio de Janeiro com dinheiro público.

O recurso do “investimento” de Flávio, supostamente, vinha do esquema conhecido como “rachadinha”. Flávio é acusado de reter parte de salário de servidores fantasmas lotados no seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, quando era deputado estadual.

A denúncia foi publicada neste sábado (25) pelo site The Intercept Brasil, que teve acesso a documentos sigilosos sobre o caso do Ministério Público do Rio de Janeiro.

Conforme reportagem do site, as investigações cruzaram informações bancárias de 86 pessoas suspeitas de envolvimento no esquema, o qual funcionava assim:

  1. Flávio Bolsonaro nomeava servidores no seu gabinete na Alerj (Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro);
  2. Fabrício Queiroz, ex assessor de Flávio e amigo pessoal do presidente Jair Bolsonaro desde os anos 1980, é apontado como articulador da rachadinha, pela qual confiscava 40% dos salários dos servidores fantasmas;
  3. Em seguida, fazia os repasses do confisco para Adriano da Nóbrega, então chefe do Escritório do Crime, uma das maiores milícias do Rio, que atua em Rio das Pedras e na Muzema;
  4. O ex-capitão do Bope, morto em fevereiro no interior da Bahia em um confronto com a polícia, condecorado por Flávio, investia os recursos nas duas favelas onde atuava, as quais tiveram um boom imobiliário de construções irregulares; e
  5. Os lucros desse boom imobiliário eram divididos com Flávio Bolsonaro, considerado o financiador do esquema ilícito com dinheiro público. Ele recebia os repasses do próprio Adriano e, principalmente de Queiroz.

O MP-RJ apontou que os repasses da rachadinha para o capitão Adriano ocorria pelas contas da sua mãe, Raimunda Vera Magalhães, e da sua mulher Danielle da Costa Nóbrega. Elas tinham cargos comissionados no gabinete do deputado Flávio na Alerj e foram nomeadas por Queiroz.

Ambas movimentaram pelo menos R$ 1,1 milhão entre 2016 e 2017. E investiram os recursos em dois restaurantes, uma loja de material de construção e três pequenas construtoras, registradas em nomes de “laranjas” do Escritório do Crime sob comando de Adriano.

O papel de “investidor” nas construções da milícia explicaria a evolução patrimonial de Flávio Bolsonaro entre 2015 e 2017, com a aquisição de dois apartamentos de valores incompatíveis com seus rendimentos e da compra de participação societária numa loja de chocolates Kopenhagen.

Fabrício Queiroz, ao ter conhecimento da operação do MP-RJ, também investigada pela PF, afirmou em áudios de Whatsapp divulgados pelos jornais O Globo e Folha de S.Paulo em outubro:

“O MP está preparando uma pica do tamanho de um cometa para empurrar na gente”.

Desde então, com o avanço nas investigações do caso, o presidente Jair Bolsonaro teria passado a pressionar o ex ministro Sérgio Moro para trocar o comando da Polícia Federal tanto no Rio de Janeiro quanto em Brasília.

Moro pediu demissão ontem (24) do cargo, citando interferência política de Bolsonaro na PF. Disse ainda que o presidente queria alguém para quem ele “pudesse ligar” para saber do andamento de investigações.

Bolsonaro negou as acusações, mas confirmou que esperava sim receber diariamente um relatório da PF. E que considera isto absolutamente normal.

A nomeação de Alexandre Ramagem, ex diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), homem de confiança de Jair Bolsonaro, para a Direção-Geral da Polícia Federal corrobora a afirmação de Moro e Bolsonaro sobre a questão, visto que no cargo na Abin, Ramagem cumpria tal papel.

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