O que começou como promessa de fortalecimento da agricultura norte-americana virou pesadelo para produtores do Arkansas. Tarifas impostas por Donald Trump, somadas à inflação e à queda do preço das commodities, tornaram inviável a vida de centenas de agricultores. O cenário é descrito por associações locais como a pior crise em uma geração: equipamentos envelhecidos, dívidas crescentes e a ameaça real de falência pairam sobre famílias que produzem há décadas.

Do orgulho à falência

A herança rural do estado está sendo desfeita. Fazendas que resistiram por várias gerações agora enfrentam o risco de fechamento definitivo. Entre os fatores mais citados estão o aumento dos custos de produção, a estagnação dos preços pagos aos produtores e a impossibilidade de manter a atividade sem apoio financeiro imediato. O resultado é um processo acelerado de endividamento e abandono da terra, que compromete não apenas o presente, mas também o futuro da agricultura familiar.

O pacote de subsídios apresentado como solução pelo governo só deve começar a ser pago em 2026, o que para muitos agricultores equivale a um auxílio tardio. Enquanto o discurso oficial exalta a proteção ao campo, a realidade é que milhares de produtores precisam de socorro imediato para manter a produção e evitar a falência. O contraste entre promessas futuras e dificuldades presentes amplia a insatisfação e gera desconfiança.

Quando a base se volta contra

Arkansas deu 64% dos votos a Trump em 2024, mas a paciência da base rural está se esgotando. Em encontros recentes com assessores do Congresso, agricultores cobraram ações imediatas, deixando claro que não querem esmolas, mas condições mínimas para manter a produção. A frustração de quem sempre defendeu o republicano é um sinal de desgaste político num dos redutos mais conservadores do país.

O impasse vivido pelos agricultores expõe como decisões de política externa repercutem dentro das fronteiras americanas. Tarifas que pretendiam pressionar rivais como a China acabaram sufocando os próprios produtores, fragilizando a segurança alimentar e reduzindo a competitividade dos Estados Unidos. Ao perder espaço para países como o Brasil, que ocupa mercados antes dominados pelo milho e pela soja americanos, Trump colhe críticas cada vez mais duras de quem antes lhe dava apoio incondicional. A crise do campo americano deixa um alerta: quando a política externa é usada como palco eleitoral, quem paga a conta primeiro é o povo.

Redação: Ruan Cezar Barboza
Revisão: Guilherme Domingues

Imagem de Pete Linforth por Pixabay