Surtos de doenças evitáveis preocupam OMS, UNICEF e Gavi
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Em comunicado durante a Semana Mundial de Imunização, a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e a Gavi, aliança global para vacinas, alertara, na última quinta-feira (24) para o avanço de surtos de doenças evitáveis por vacinação, como sarampo, meningite e febre amarela. Segundo as agências, a união da desinformação crescente, das crises humanitárias, do aumento populacional e dos cortes significativos no financiamento global da saúde formam uma ameaça perfeita as décadas de progresso conquistado com campanhas de vacinação, sobretudo em países de baixa e média renda, onde os sistemas de saúde já enfrentam desafios estruturais.
Um dos indicadores mais preocupantes desse retrocesso é o avanço do sarampo, doença altamente contagiosa que havia sido significativamente controlada em diversos países. Desde 2021, os casos têm aumentado globalmente, com 10,3 milhões de notificações em 2023 — um salto de 20% em relação ao ano anterior. Ao longo dos últimos 12 meses, 138 países relataram casos da doença, sendo que 61 enfrentaram surtos de grande escala, o maior número registrado desde 2019. A queda na cobertura vacinal durante a pandemia de COVID-19, somada à lentidão na recuperação dos sistemas de imunização, contribuiu diretamente para esse aumento. A falta de imunização não apenas eleva o risco de morte infantil como pressiona os sistemas de saúde, que precisam lidar com surtos evitáveis, ao mesmo tempo em que enfrentam outras emergências sanitárias.
Outras doenças que estavam sob controle também voltam a preocupar. A meningite, por exemplo, registrou aumento expressivo no continente africano. Somente nos três primeiros meses de 2025, foram notificados mais de 5.500 casos suspeitos e quase 300 mortes em 22 países. Em 2024, o total foi ainda mais alarmante: 26.000 casos e quase 1.400 mortes em 24 países africanos. Já a febre amarela, que vinha em declínio graças à imunização rotineira e aos estoques globais de vacinas, apresentou crescimento tanto na África quanto nas Américas. Em 2024, 12 países africanos registraram 124 casos confirmados. No mesmo período, quatro países da América Latina também enfrentaram surtos, com 131 casos confirmados. Esse ressurgimento, segundo as agências, reflete brechas perigosas nas campanhas preventivas, na cobertura vacinal e na vigilância epidemiológica, especialmente em áreas antes consideradas livres dessas doenças.
O aumento dos surtos ocorre em um contexto de crise de financiamento da saúde global. Um levantamento da OMS com 108 de seus escritórios em países de baixa e média renda revelou que quase metade enfrenta interrupções moderadas ou severas em campanhas de vacinação, imunização de rotina e abastecimento de insumos devido à redução do apoio de doadores internacionais. A vigilância de doenças também foi afetada em mais da metade dos países analisados. Apesar do esforço dos países para alcançar crianças não vacinadas durante a pandemia, o número de crianças que não receberam nenhuma dose de vacina de rotina tem aumentado ano a ano: foram 14,5 milhões em 2023, acima dos 13,9 milhões em 2022 e dos 12,9 milhões registrados antes da pandemia, em 2019. Mais da metade dessas crianças vive em contextos de conflito, fragilidade ou instabilidade, onde o acesso a serviços de saúde é precário ou inexistente.
Em meio a esse cenário desafiador, a continuidade de programas como o Big Catch-Up, lançado em 2023, é considerada fundamental. A iniciativa tem como objetivo recuperar a cobertura vacinal entre crianças que ficaram desprotegidas durante a pandemia. Além disso, há esforços para expandir a imunização contra doenças como HPV, pneumococo e malária. Entre 2020 e 2023, a cobertura da vacina contra o HPV na África quase dobrou, passando de 21% para 40%, um avanço importante para combater o câncer do colo do útero, prevalente na região. Também houve avanços no Sudeste Asiático com a vacinação de pneumocócicas conjugadas, além da introdução de vacinas contra a malária em 20 países africanos. Estima-se que, até 2035, essas vacinas poderão salvar até meio milhão de vidas, caso a expansão seja mantida e os investimentos garantidos.
As agências ressaltam que a vacinação é uma das intervenções mais eficazes em saúde pública. Segundo dados da OMS, o retorno sobre cada dólar investido em imunização é de US$ 54, considerando os benefícios sociais, econômicos e de saúde. Além de prevenir doenças, a imunização serve como porta de entrada para outros cuidados essenciais, como nutrição, pré-natal e triagem de malária. O fortalecimento dos programas de vacinação é, portanto, uma estratégia-chave para consolidar sistemas de saúde mais resilientes, promover desenvolvimento sustentável e garantir segurança sanitária global. Para isso, as agências pedem que os países renovem seus compromissos com a Agenda de Imunização 2030 (IA2030), que estabelece metas globais para ampliar o acesso às vacinas e reduzir desigualdades.
O futuro da imunização global pode ser fortemente impactado pela próxima cúpula de doadores de alto nível da Gavi, marcada para 25 de junho de 2025. O evento busca arrecadar pelo menos US$ 9 bilhões para financiar uma estratégia ambiciosa: proteger 500 milhões de crianças e salvar, ao menos, 8 milhões de vidas entre 2026 e 2030. A Dra. Sania Nishtar, CEO da Gavi, destaca que a aliança tem um plano claro para expandir estoques globais de vacinas e implementar campanhas preventivas em regiões críticas, como as afetadas por surtos de meningite, febre-amarela e sarampo, mas afirma que para tal é necessário financiamento:
“Essas atividades vitais, no entanto, estarão em risco se a Gavi não for totalmente financiada nos próximos cinco anos e pedimos aos nossos doadores que apoiem nossa missão no interesse de manter todos, em todos os lugares, mais protegidos contra doenças evitáveis.”
Revisão: Ester Laís Costa Aquino
Reprodução Imagem: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil