Secretário de Cultura gera indignação ao copiar ministro de Hitler
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Secretário de Cultura gera indignação ao copiar ministro de Hitler
Frase, estética e trilha sonora se assemelham à propaganda nazista e gera repercussão; Presidente decide pela demissão do Secretário ler
Um vídeo em que o secretário da Cultura Roberto Alvim copia trechos de um discurso de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda da Alemanha nazista, sobre as artes provocou uma onda de indignação nas redes sociais na madrugada desta sexta-feira (17). No fim da manhã, o presidente Jair Bolsonaro decidiu demitir o secretário após a polêmica, pois, segundo auxiliares próximos de Bolsonaro, a situação de Alvim ficou “insustentável”. O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, já foi comunicado da decisão.
A polêmica
#PrêmioNacionaldasArtes | Marco histórico nas artes e na cultura brasileira! Com investimento de mais de R$ 20 milhões, o Prêmio Nacional das Artes vai apoiar projetos de sete categorias em todas as regiões do Brasil. Dê o play e confira! pic.twitter.com/dbbW4xuKpM
— Secretaria Especial da Cultura (@CulturaGovBr) January 16, 2020
O vídeo foi postado pela Secretaria Especial da Cultura do governo Bolsonaro para divulgar o Prêmio Nacional das Artes, que havia sido lançado horas antes em live com a participação do próprio presidente.
“A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada”, disse o ministro de cultura e comunicação de Hitler em um pronunciamento para diretores de teatro, segundo o livro “Joseph Goebbels: uma Biografia”, de Peter Longerich.
“A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada”, afirmou Alvim no vídeo postado nas redes sociais.
Além dos trechos do pronunciamento, a estética do vídeo, a aparência do secretário, o vocabulário, o tom de voz e a trilha sonora escolhida também fizeram várias personalidades compararem a divulgação à propaganda nazista.
Goebbels
A fala de Alvim levou o nome de Goebbels a ser um dos mais citados no Twitter durante a madrugada e fez com que centenas de internautas repudiassem a referência nazista e postassem comparações com a propaganda de Hitler.
Uma das referências no vídeo é a música de fundo, que veio da ópera “Lohengrin”, de Richard Wagner, uma obra que Hitler contou em sua autobiografia ter sido decisiva em sua vida.
O pronunciamento de Alvim foi gravado em uma sala que tem o retrato do presidente Jair Bolsonaro ao fundo, a bandeira brasileira de um lado e uma cruz do outro.
Ele começa citando um pedido do presidente: que a cultura não destrua e sim salve a juventude brasileira.
“A cultura é a base da pátria. Quando a cultura adoece, o povo adoece junto. E é por isso que queremos uma cultura dinâmica, mas ao mesmo tempo enraizada na nobreza de nossos mitos fundantes. A pátria, a família, a coragem do povo e sua profunda ligação com Deus, amparam nossas ações na criação de políticas públicas. As virtudes da fé, da lealdade, do auto-sacrifício e da luta contra o mal serão alçadas ao território sagrado das obras de arte”, disse o secretário.
Prêmio Nacional das Artes
Segundo Alvim, o Prêmio Nacional das Artes vai gerar milhares de empregos, capacitação profissional e formação de público.
“Trata-se de um marco histórico nas artes brasileiras. De relevância imensurável. E sua implementação e perpetuação ao longo dos próximos anos irá redefinir a qualidade da produção cultural em nosso país”, completou.
Em sete categorias, o prêmio vai selecionar cinco óperas, 25 espetáculos teatrais, 25 exposições individuais de pintura e 25 de escultura, 25 contos inéditos, 25 CDs musicais e 15 propostas de histórias em quadrinhos.
Dramaturgo, Alvim ganhou a simpatia de Bolsonaro ao defender o presidente nas redes sociais e ao atacar a atriz Fernanda Montenegro, dizendo sentir “desprezo” por ela.
Na Secretaria Especial da Cultura, coleciona polêmicas, como a nomeação do jornalista e militante de direita Sérgio Nascimento de Camargo para a presidente da Fundação Palmares. A nomeação foi suspensa após uma grande mobilização contra afirmações de Camargo consideradas racistas.
Esta semana, Alvim ironizou a indicação de “Democracia em Vertigem” na categoria de melhor documentário longa-metragem do Oscar dizendo que a produção deveria estar na categoria ficção.
Dirigido pela cineasta mineira Petra Costa, o filme acompanha o impeachment de Dilma Rousseff a partir de uma visão particular da diretora.
Notícia atualizada às 11h49.