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Reunião do Brics ignora crises globais do mundo atual

Pedro Dallari faz uma avaliação da reunião da Cúpula do Brics entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, findada no último dia 24 de outubro ler

31 de outubro de 2024 - 20:30

Na coluna de hoje, dia 30 de outubro, o professor Pedro Dallari faz uma avaliação da reunião da Cúpula do Brics, parceria entre cinco das maiores economias emergentes do mundo – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul -, que terminou no último dia 24 de outubro e foi realizada em Kazan, na Rússia.

“O mundo vive hoje um quadro de crises globais muito preocupantes, como aquecimento global, os riscos de conflito nuclear, pandemias e descontrole da inteligência artificial, e a reunião do Brics e o documento final que ela produziu se omitem completamente em relação a esses temas. Para não dizer que não se falou nada, há apenas algumas considerações gerais, sem que os países desse espaço de integração tenham formulado propostas concretas de objetivos e metas para lidar com essas ameaças à própria humanidade. É importante lembrar que o Brics é um espaço de integração que reúne países muito importantes. É o acrônimo das iniciais de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. E ao Brics já se associaram novos países, como Irã, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Egito e, mais recentemente, Bolívia, Cuba, Tailândia e Nigéria”, afirma.

Segundo Dallari, era esperado “de uma articulação de países tão importantes um compromisso mais efetivo com os grandes problemas do nosso tempo e isso não ocorreu. Fora algumas considerações muito genéricas, não há nenhum tipo de compromisso efetivo diante desse cenário”. O professor avalia que “o Brics, ao renunciar ser um ator importante para o equacionamento dos problemas atuais graves que o mundo vive, acabou se convertendo em um espaço de articulação política para a disputa do poder em escala global, uma organização voltada a objetivos fundamentalmente geopolíticos, e baseia isso na defesa bastante genérica de uma reforma do multilateralismo, com propostas de concepção praticamente inviáveis, como a reforma do Conselho de Segurança, a substituição do dólar como moeda básica para as relações negociais internacionais, deixando, portanto, de exercer um papel mais efetivo”.

Sobre a participação do Brasil na reunião, o professor avalia que “o País fica em uma situação muito difícil, porque é visto como um país relevante no mundo e com o compromisso com os direitos humanos, com a democracia e, portanto, com muito mais peso para a solução dos problemas do nosso tempo. E, nesse contexto em que se encontra o Brics, a presença brasileira é muito constrangedora”.

 

Fonte: Jornal da USP

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