Queda na cobertura vacinal de crianças preocupa especialistas
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Em nota técnica, Fiocruz aponta desafios para ampliar a vacinação de crianças no Brasil ler
Nota técnica emitida pela Fiocruz e especialistas apontam desafios para ampliar vacinação de crianças no Brasil. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª edição, a professora Marta Heloísa Lopes, do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da USP e responsável pelo Centro de Imunizações do Hospital das Clínicas, comenta sobre os riscos da estagnação da dose pediátrica contra covid-19.
De acordo com a professora, “são várias coisas que estão influenciando esses números bem preocupantes, não só de queda de cobertura vacinal, de um modo geral, como também especificamente agora da covid-19 para crianças. Acho que a gente não pode deixar de falar que uma das coisas que estão contribuindo para isso é a falta de incentivos no SUS (Sistema Único de Saúde). O SUS foi muito falado e sem dúvida nenhuma tem um papel importantíssimo na contenção da pandemia da covid-19. Mas a gente, paralelamente a isso, tem visto que nós não temos novas contratações, nós não temos incentivo às pessoas de um modo geral. Não dá para a gente pegar uma coisa isoladamente. Existem sem dúvida alguns fatores isolados influenciando nas coberturas vacinais, mas isso faz parte de um todo maior, nós estamos com problemas no SUS como um todo, em todo o Brasil”.
A falta de novas contratações e a sobrecarga de serviços são alguns dos problemas apontados por Marta. “As pessoas estão trabalhando no limite da sua capacidade, novas tarefas foram se agregando nesse período. Então, eu acho que isto é uma das coisas que a gente precisa enfatizar muito, além das outras particularidades que frequentemente as pessoas comentam, movimentos contra a vacina, a hesitação vacinal, que não chega a ser uma uma conduta antivacina, mas é uma hesitação, ‘será que vale a pena, será que eu faço isso’. Então, tudo isso somado, infelizmente se reflete nesse panorama. Imagina que menos de 40% das crianças, tanto no município de São Paulo como no Estado de São Paulo, receberam a segunda dose da vacina de covid até o momento.”
Com a circulação da ômicron, foram identificados mais casos em crianças e adolescentes do que em variantes anteriores, mas, mesmo assim, não na mesma proporção dos riscos causados em idosos ou pacientes com comorbidades.“Não significa que crianças e adolescentes não possam adoecer e não possam ter doença grave e, além do risco para a própria criança, elas servem de veículo para transmitir esse vírus para outras pessoas e para pessoas mais vulneráveis. Infelizmente, a gente está vendo, com o passar da pandemia, que os idosos respondem menos às vacinas, provavelmente perdem mais rapidamente a proteção. Veja, em aproximadamente um ano, nós vamos para a quarta dose da vacina. Nós não temos nenhuma outra estratégia vacinal em que em um ano o indivíduo receba quatro doses da vacina, mostrando que essa proteção não é uma proteção de longo prazo, então, se nós não diminuirmos a circulação desse agente, os problemas vão continuar”, atesta a professora.
Cobertura vacinal
Marta alerta para a campanha de vacinação intensa, planejada para o próximo domingo, dia 27 de março: “Neste domingão, que está sendo chamado domingão da vacinação aqui em São Paulo, a vacina de covid é para qualquer pessoa que não estiver em dia com a sua vacina. Os esforços estão sendo centrados nesta faixa etária, de 5 a 11 anos, onde nós temos esses números preocupantes de crianças que não receberam a segunda dose. Mas qualquer pessoa que não esteja com a sua vacinação em dia para covid pode e deve se dirigir aos postos, que vão funcionar inclusive em parques, para pôr em dia sua vacinação”.
A professora relembra mais uma vez a importância das vacinas e da cobertura vacinal: “O esquema básico de vacinação covid são duas doses. Uma dose não leva à proteção completa. Então, na verdade, uma dose é quase um desperdício. Eu acho que é isso que a gente precisa ter em mente, porque gastou-se uma vacina e não se conseguiu aquilo que se pretende, ou seja, a proteção da pessoa, a proteção da pessoa predominantemente para doenças graves e isso ficou muito claro nessa onda de ômicron. Quando nós tínhamos grande parte da população adulta vacinada, nós tivemos muito menos casos, muito menos internações e muito menos óbitos, felizmente”.
Fonte: Jornal da USP