As goleadas sofridas recentemente pelo time feminino do Ceará (14 a 0 para o Corinthians e 10 a 0 para o Flamengo) mostram que a CBF precisa rever as suas políticas de fortalecimento da modalidade.

No início de fevereiro, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ednaldo Rodrigues, anunciou que a entidade vai ampliar a obrigatoriedade de clubes terem equipes femininas.

“Hoje, só os integrantes da Série A masculina são obrigados a ter a categoria feminina. Isso será estendido para as Séries B, C e D. O clube que, em 2027, for jogar a Série D, ele tem que ter o futebol feminino”, disse Rodrigues na ocasião.

O caso do Ceará mostra que o foco não deve ser a obrigatoriedade, mas o investimento.

A CBF precisa se preocupar mais em criar mecanismos que exijam investimentos decentes no futebol feminino como requisito para a participação em suas competições.

O Ceará, por exemplo, ganhou a Série A-2 feminina no ano passado e assegurou vaga na elite em 2023. Mas, com a queda do masculino para a Série B, houve corte de despesas também na equipe de mulheres.

Pelas regras atuais da CBF, o Vozão não precisaria manter seu time feminino. Mas manteve. Começou a temporada com uma equipe recheada de jogadoras de suas categorias de base e nova comissão técnica.

O time cearense foi massacrado pelo Flamengo na Supercopa do Brasil e pelo Corinthians na primeira rodada do Brasileiro, no último sábado (25). O clube começou a se reforçar em fevereiro, anunciando quatro contratações.

Porém, o estrago já foi feito nas meninas que estiveram presentes nas duas goleadas. Perder de 14 a 0 não estimula ninguém a seguir na modalidade. Pelo contrário.

Como fortalecer o futebol feminino é uma das bandeiras do presidente da CBF, é necessário que Rodrigues e sua equipe se esforcem para criar métodos para tentar evitar que mais meninas sejam expostas dessa maneira.

Tornar o futebol feminino mais atraente para os clubes pode ser mais eficiente do que apenas obrigá-los a jogar.

É verdade que a CBF tem aumentado as premiações de suas competições para as mulheres. Isso é ótimo. Mas o trabalho está só no começo. Cabe à entidade atrair mais e melhores patrocinadores para que a maioria das agremiações não olhem para a modalidade apenas como uma exigência a ser cumprida.

O ideal é que os clubes queiram jogar e que tenham motivos para apresentar equipes minimamente competitivas.

Os episódios envolvendo o Ceará mostram que é necessário montar uma rede de proteção para as jogadoras que vai muito além de garantir na marra que elas tenham um clube para jogar.

Reprodução: UOL