Durante o encerramento do Fórum Empresarial Brasil-China, realizado em Pequim no dia 12 de maio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou a chegada da gigante chinesa Meituan ao mercado brasileiro com seu aplicativo de entregas Keeta. A companhia confirmou um investimento de R$ 5,6 bilhões nos próximos cinco anos para estabelecer sua operação no país, com destaque para a criação de 100 mil empregos indiretos e a instalação de um centro de atendimento no Nordeste, que deve empregar entre 3 e 4 mil pessoas diretamente. Segundo Lula, a iniciativa reforça os laços bilaterais entre Brasil e China e amplia as oportunidades comerciais:

“Hoje demos mais um passo para fortalecer nosso intercâmbio bilateral e criar oportunidades de comércio e desenvolvimento. China e Brasil são parceiros estratégicos e atores fundamentais nos temas globais. Apostamos na redução das barreiras comerciais e queremos mais integração”, afirmou o Presidente.

Estratégia de expansão e utilização de IA

Criado em 2023, o Keeta é uma subsidiária da Meituan que visa internacionalizar os serviços da empresa, conhecida por operar como um superapp na China. A plataforma atua atualmente em Hong Kong e Arábia Saudita, e aposta em tecnologias como inteligência artificial, atendimento automatizado e até drones em algumas entregas. O nome Keeta faz referência ao guepardo (“cheetah”, em inglês), representando agilidade e adaptação ao mercado local. No Brasil, a companhia já conta com um escritório em São Paulo e iniciou reuniões com redes de restaurantes para formalizar parcerias comerciais.

Concorrência acirrada no mercado de delivery

A chegada da Meituan acontece em meio a um cenário altamente competitivo. O setor de delivery no Brasil é dominado pelo iFood, que detém cerca de 80% do mercado, com uma média de 100 milhões de pedidos por mês. Diante desse domínio, outras empresas também têm se movimentado. A 99 anunciou a volta da 99Food, com R$ 1 bilhão em investimentos e incentivos como isenção de comissões por dois anos. Já o Rappi pretende dobrar o número de restaurantes parceiros, oferecendo isenção de taxas de intermediação e entregador. A ofensiva da Keeta, portanto, representa mais um desafio à hegemonia do iFood.

Entregadores mantêm desconfiança 

Apesar da promessa de inovação e geração de empregos, representantes dos entregadores demonstram desconfiança. Edgar Francisco da Silva, conhecido como Gringo e presidente da Associação dos Motofretistas de Aplicativos e Autônomos do Brasil (AMABR), alerta para um padrão recorrente:

“A gente não vê perspectiva de melhora, seja com a Meituan, seja com qualquer outro aplicativo. Essas empresas têm investidores para quem precisam dar retornos e elas só conseguem dar esses retornos com a precarização e exploração desse serviço. No início, as condições costumam ser melhores e os aplicativos pagam muito bem, porque as plataformas estão investindo, mas depois o fim é o mesmo. Só muda a coleira” afirmou.

Os entregadores estão há anos reivindicando melhores condições de trabalho e reajustes nos valores pagos por entrega. A AMABR se reunirá com o Ministério do Trabalho em 15 de maio para discutir a retomada da Mesa Tripartite, criada em 2023 para debater a regulamentação do trabalho por aplicativos. Atualmente, os entregadores não são contemplados pelo PLP 12/24, que cobre apenas motoristas de carros.

Meituan aposta em presença estratégica no Brasil

Segundo o jornal O Globo, a Meituan já iniciou contratações no país e o site da Keeta possui versão em português, com formulário para entregadores interessados. A estratégia da empresa é clara: oferecer uma alternativa tecnológica, com foco na experiência do consumidor e apoio ao comércio local.

“O Brasil é um mercado enorme com grande potencial. A Keeta visa aprimorar a experiência do consumidor, apoiar o crescimento de restaurantes locais e criar mais oportunidades de emprego”, disse Wang Xing, CEO da Meituan, ao jornal China Daily.

O movimento também integra um pacote mais amplo de investimentos chineses anunciados durante a visita oficial de Lula à China, que totalizam R$ 27 bilhões.

Para o setor de alimentação e tecnologia, a entrada da Keeta representa uma possível reconfiguração de mercado. Segundo Paulo Solmucci, presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), o setor precisa de mais concorrência para garantir equilíbrio:

“O mercado precisa de mais diversidade e de condições mais justas. É essencial remover barreiras que impedem a concorrência plena, criando um ambiente saudável para os negócios e benéfico para toda a sociedade”, afirma Paulo .

A expectativa é de que a chegada de novas plataformas pressione por melhores condições tanto para consumidores quanto para trabalhadores, além de provocar debates sobre a regulação do trabalho por aplicativo no Brasil.

Redator: Karini Yumi

Revisor: Maísa Faria

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