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Governo precisa atuar no curto prazo e já planejar retomada das reformas

Para Luciano Nakabashi, medidas são importantes até para ajudar a controlar os gastos públicos e dar uma trajetória mais confiável para essa dívida ler

26 de junho de 2020 - 08:04

Os efeitos da pandemia sobre a dívida do governo federal e de Estados e municípios é o tema do Reflexão Econômica desta semana. O professor lembra da forte queda na arrecadação e da necessidade do aumento de gastos, tanto com o seguro desemprego como com os pacotes de socorros a empresas e famílias de baixa renda, o que tem afetado muito negativamente o déficit do governo e, consequentemente, o déficit sobre a dívida em relação ao PIB. “Existia uma expectativa antes desta pandemia de que a dívida do governo em relação ao PIB nas três esferas, federal, estadual e municipal, iria ficar em 80% em relação ao PIB, mas agora existe uma estimativa de que a dívida vá chegar a 100% do PIB, o que é muito elevado.”

Nakabashi diz que as crises de 2014, 2015 e 2016 estavam muito relacionadas ao problema fiscal, com uma trajetória explosiva da dívida pública, o que gerou muita incerteza, principalmente por parte das empresas, e isso afetou o investimento. “Essa retração do PIB acabou afetando também as famílias em função da piora no mercado de trabalho, com um aumento grande no desemprego, o que acabou reduzindo gastos.” O professor lembra que essas crises são como uma espiral, uma coisa afeta a outra, e acabam reduzindo o nível da atividade econômica.

Já a crise atual, da pandemia, tem impactado o problema fiscal do governo. “Como vimos nas crises anteriores, o fundamental não é só o tamanho da dívida, mas a sua trajetória.” Em 2019, a dívida era maior, mas com uma expectativa melhor com a reforma da Previdência. “É claro que, neste momento, o governo tem que se preocupar com questões de curto prazo, como enfrentar a pandemia, tanto em termos do sistema de saúde, mas também em termos econômicos, mas é necessário começar o segundo semestre com um olhar mais à frente.”

É importante manter os juros baixos, a política monetária deve ter um papel importante nesse cenário, para manter a economia funcionando e reduzir ao máximo os efeitos da covid-19 sobre a economia. “A política fiscal já está muito problemática e isso pode gerar mais incertezas e ter um efeito mais recessivo do que expansivo.”

Para o professor, o olhar mais à frente é o governo não perder o foco das reformas, para a redução dos gastos, especialmente a administrativa, que deve passar mais receitas e gastos para os Estados. Outra é a desvinculação das receitas com os gastos, fator que gera pressão desde a Constituição de 1988 para o aumento dos gastos do setor público em geral. “Essas reformas são importantes até para ajudar a controlar os gastos lá na frente e dar uma trajetória mais confiável para essa dívida, indicando que o País não vai entrar em default e começar a emitir moedas. Outra providência é aumentar a produtividade do trabalho, que está estagnada há 40 anos”, finaliza.

Fonte: A coluna Reflexão Econômica, com o professor Luciano Nakabashi, vai ao ar toda quarta-feira às 9h00, na Rádio USP (São Paulo 93,7 FM; Ribeirão Preto 107,9 FM) e também no Youtube, com produção do Jornal da USP e TV USP.

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