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Ganhadores do Nobel de Economia relacionam a prosperidade das nações com suas instituições
Os três vencedores (Acemoglu, Johnson e Robinson) dialogam com temas atuais ao trazer a importância das instituições ou da tecnologia ler
A entrega do Prêmio Nobel de Economia 2024 reconheceu o trabalho dos economistas Daron Acemoglu, Simon Johnson e James A. Robinson, cuja pesquisa se concentra na relação entre instituições e prosperidade das nações. Segundo a Academia, os ganhadores adicionaram uma nova dimensão às explicações anteriores para as diferenças atuais na riqueza dos países ao redor do mundo.
A principal tese defendida pelos premiados é que a estrutura institucional dos países, especialmente aquelas formadas durante a colonização, tem um impacto profundo na desigualdade global e no desenvolvimento econômico. Para discutir essa teoria, o professor Paulo Feldmann, da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da Universidade de São Paulo, trouxe uma análise detalhada, relacionando essas ideias com a realidade brasileira e mundial.
Instituições extrativistas
O especialista afirma que o primeiro trabalho foi feito por Acemoglu e por Robinson, que lançaram o livro Por que as nações fracassam: as origens do poder, da prosperidade e da pobreza. Feldmann explica que, neste livro, eles pesquisaram muitos países em todos os continentes e relacionaram o desenvolvimento com a estrutura social dos países. “A principal conclusão deles é a seguinte: os países que avançam são aqueles que têm o que eles chamam de estrutura inclusiva, é aquela estrutura onde todo cidadão participa do desenvolvimento e pode participar se quiser. Então é um desenvolvimento que é feito para todos.” Por outro lado, países com instituições extrativistas, que favorecem uma pequena elite, tendem a enfrentar maiores desafios de desenvolvimento.
O professor relata que a América Latina sofreu com um modelo de colonização de exploração, em que as riquezas eram extraídas para beneficiar as metrópoles europeias, como Portugal e Espanha. Esse modelo criou instituições excludentes que perpetuam a desigualdade até hoje. Em contraste, países como os Estados Unidos e o Canadá, cujos colonizadores tinham o objetivo de se estabelecer e prosperar localmente, desenvolveram instituições mais inclusivas e, por isso, tiveram maior sucesso em seu crescimento econômico. “Nos países inclusivos foram criadas instituições importantes e muito fortes que privilegiam a sociedade como um todo como, por exemplo, justiça, Poder Judiciário, eleições livres e democráticas, congressos parlamentares.”
Um dos exemplos mais emblemáticos mencionados por Feldmann foi o caso da cidade de Nogales, que é dividida pela fronteira entre México e Estados Unidos. No lado americano, a cidade prospera com instituições fortes e inclusivas, enquanto no lado mexicano há problemas de corrupção e falta de desenvolvimento, o que demonstra o impacto profundo das instituições na vida das pessoas. Esse padrão é visto em outros lugares, como na comparação entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul, que, após 1950, seguiram trajetórias opostas devido às suas diferentes estruturas institucionais.
O docente também ressalta que, embora o livro tenha sido um marco, ele apresentou falhas, especialmente em sua previsão sobre a China. “O livro foi escrito em 2009 e ele tem um capítulo sobre a China em que diz ‘a China não tem futuro, porque a China é um país extrativista e, portanto, não conseguirá se desenvolver’. É claro que ele errou, a China hoje é a segunda potência mundial. Então o livro também não era perfeito, acertou em muita coisa, mas errou em algumas, principalmente no caso da China”, comenta.
Importância das tecnologias
Acemoglu também fez um livro em conjunto com o outro ganhador do Nobel, Johnson, intitulado Poder e progresso: Uma luta de mil anos entre a tecnologia e a prosperidade. Feldmann explica que eles relacionam o desenvolvimento à capacidade do país de desenvolver tecnologias e lançar inovações a partir de um levantamento histórico dos últimos mil anos. “Eles mostram, por exemplo, que Portugal e Espanha viraram potência porque inventaram o navio, a vela. Depois de alguns anos, a Inglaterra inventou o motor a vapor, o navio a vapor, e virou a grande potência, e assim por diante”, complementa.
O livro mostra que a tecnologia faz com que países fiquem mais ou menos poderosos, mas implica uma grande questão, presente nas duas obras: como essas tecnologias podem ser efetivamente usadas em benefício de toda a população, e não apenas de uma elite? “Então, eles voltam à questão das instituições e dizem que o importante é que haja instituições que garantam que não haverá uma ganância excessiva, que os donos das novas tecnologias vão ter que também distribuir os seus lucros, os seus benefícios por toda a sociedade. É um tema complexo, mas o mérito dos dois livros é ter tocado em pontos importantíssimos do nosso tempo”, conclui.
Fonte: Jornal da USP