A nova estratégia geopolítica de Donald Trump está remodelando as relações internacionais com base na coerção e no pragmatismo econômico. A revista britânica The Economist afirma que o presidente dos Estados Unidos rompeu com a diplomacia tradicional e instaurou uma abordagem agressiva, comparável ao estilo de Don Corleone, do filme O Poderoso Chefão.
“Aproxima-se rapidamente um mundo no qual quem tem poder faz o que quer”, alerta a publicação.
Os impactos dessa mudança já aparecem no cenário internacional. Nesta semana, em uma aliança sem precedentes, Estados Unidos, Rússia e Coreia do Norte votaram juntos contra uma resolução da ONU sobre a guerra da Ucrânia, isolando Kiev e os aliados europeus. Trump deixou de lado antigas rivalidades e passou a priorizar interesses estratégicos imediatos.
“Essa aliança impensável há poucos meses reflete um novo equilíbrio de poder”, destaca a The Economist.
Uma nova geopolítica baseada em intimidação
“O novo sistema tem uma nova hierarquia, onde os Estados Unidos ocupam o topo, seguidos por países que têm recursos para vender, ameaças para fazer e líderes sem as restrições da democracia”, analisa a revista.
Trump substituiu a diplomacia tradicional por uma estratégia que impõe a vontade das grandes potências sobre as nações menores. Nas negociações sobre a guerra na Ucrânia, Trump ignorou Kiev e os países europeus e iniciou um diálogo direto com Moscou. Esse movimento enfraqueceu a posição da Ucrânia e deixou claro que Washington está disposto a abandonar alianças históricas para garantir vantagens estratégicas.
A nova ordem global não se limita aos Estados Unidos. Líderes como Vladimir Putin (Rússia), Benjamin Netanyahu (Israel), Xi Jinping (China) e Friedrich Merz (Alemanha) compartilham a visão de poder baseada no interesse econômico e na força política. Segundo a The Economist, essa reconfiguração geopolítica ameaça a estabilidade mundial e coloca em risco valores democráticos fundamentais.
Exploração econômica e acordos forçados
Outro reflexo dessa nova abordagem é o recente acordo de exploração mineral entre Estados Unidos e Ucrânia. A revista denuncia que Trump impôs um contrato que favorece os interesses norte-americanos sem oferecer contrapartidas significativas a Kiev. “Washington impôs esse acordo à Ucrânia, a parte mais fraca na relação”, aponta a reportagem, sugerindo que a Ucrânia aceitou os termos sob forte pressão.
Essa postura agressiva também pode ser observada em outras frentes comerciais. A The Economist argumenta que Trump prioriza acordos que garantam benefícios diretos para os EUA, sem se preocupar com compromissos diplomáticos ou equilíbrio geopolítico. Segundo a publicação, essa mudança tornará o mundo “mais perigoso e os Estados Unidos mais fracos e pobres”, pois pode gerar instabilidade global e alienar aliados estratégicos.
A nova ordem global moldada por Trump se baseia na lógica do poder e da intimidação, em que países menores são pressionados a aceitar acordos desfavoráveis. Para a The Economist, essa dinâmica cria um cenário geopolítico instável, no qual os EUA podem perder influência a longo prazo.
“Ao agir como Don Corleone, Trump pode estar garantindo vitórias de curto prazo, mas está arriscando a posição global dos Estados Unidos no futuro”, conclui a revista.
Revisor: Diogo A. Cirillo
Reprodução Imagem: Reprodução/ The Economist