Entrosamento entre ciência e governos é saída para enfrentamento da pandemia
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Entrosamento entre ciência e governos é saída para enfrentamento da pandemia
Amâncio Jorge Silva avalia que atual momento mostrou a importância de um entrosamento para além do cenário de pandemia, e considera que esse mecanismo já deveria estar instituído ler
A pandemia do novo coronavírus provoca, no atual momento, uma crise sanitária, social e econômica em quase todos os países. Algumas nações optam por tomar medidas próprias, seguindo ou não as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), o que nem sempre representa um alinhamento científico. Por outro lado, vemos a comunidade científica global reunida para que sejam encontradas respostas e avanços no combate ao vírus o mais rápido possível.
O Jornal da USP no Ar entrevistou o professor Amâncio Jorge Silva, coordenador científico do Centro de Estudos das Negociações Internacionais (Caeni) do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP, que fala sobre a diplomacia científica, os desafios e as oportunidades. “A maioria dos governos se apoia em assessoria científica, mas outros estão mais descoordenados”, afirma.
Segundo o professor, esses governos acabam tendo padrões diferentes de respostas no que se refere à governança e à ciência. No geral, as respostas da assessoria científica, isto é, da alta coordenação com os cientistas, comunidade acadêmica e organizações multilaterais, são satisfatórias e precisam estar montadas. Silva diz que é importante lembrar que essa interligação entre ciência e governos não pode acontecer apenas em uma pandemia, pois o tempo de coordenação é muito grande (montagem de equipes, estratégias de contenção dos casos, levantamento de leitos dos hospitais, testes suficientes disponíveis, entre outros).
Enquanto a então epidemia se concentrava na China, o avanço do vírus não era uma preocupação para os países. Quando começaram os primeiros surtos nacionais, ainda assim o enfrentamento era baseado em como alguns países estavam lidando com a situação e não como uma preocupação interna. “Isso retardou as medidas necessárias, justamente porque o sistema de comunicação não operou como devia, quebrando as respostas do ponto de vista das políticas públicas. É um custo tremendo”, avalia Amâncio Jorge Silva.
Mesmo com alta capacidade científica e aparato econômico, a maior potência global se encontra hoje sendo o epicentro da pandemia. Atualmente, os EUA possuem 1.035.765 de casos da covid-19, causando dúvidas se isso ocorreu devido a uma tardia estrutura científica montada ou à direção do presidente Donald Trump. Para o professor, há três aspectos nesta questão: a estrutura científica bem consolidada e a maior do mundo; a dimensão política, devido ao perfil de Trump no descrédito à ciência; e o controle social democrático.
“A China respondeu à pandemia usando tecnologia e controle das pessoas com dados dos celulares”, explica o professor. Nos EUA, esses mecanismos de respostas são diferentes dos chineses, pois não há controle político e há mais liberdade que na China, que possui controle nesses quesitos. “Não estou enaltecendo a autocracia, mas dizendo que existe uma questão em aberto em como autocracias e democracias reagem a situações como esta. Evidente que a melhor forma é o convencimento do isolamento social, por exemplo.” O Brasil está nessa linha, e tem aqueles que aceitam ou não. “O papel do líder é fundamental.”
Fonte: Jornal da USP no Ar é uma parceria da Rádio USP, Faculdade de Medicina e Instituto de Estudos Avançados. Busca aprofundar temas da atualidade de maior repercussão, além de apresentar pesquisas, grupos de estudos e especialistas da Universidade de São Paulo.