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Edição gênica em embriões continua inaceitável

Mayana Zatz participou de encontro internacional sobre genoma humano ler

03 de abril de 2023 - 19:00

A geneticista Mayana Zatz foi convidada para participar, recentemente, do comitê organizador  do Terceiro Encontro Internacional sobre Edição do Genoma Humano, ocorrido em Londres. Foram três dias de discussões, intercalando apresentações científicas e mostrando os avanços da tecnologia em algumas doenças genéticas. O encontro também contou com depoimentos de pacientes, como o de uma jovem afetada por anemia falciforme e que se beneficiou de tratamento pela técnica CRISPR de edição de genes.

Mayana Zatz explica a tecnologia usada no tratamento da anemia falciforme, por meio da qual as células da medula óssea (onde são produzidas as hemáceas) são retiradas, a mutação é corrigida no laboratório com a técnica de CRISPR e as células “editadas” são reinjetadas no paciente. No  final do evento, o comitê elaborou um documento que reflete a posição da Royal Society e de várias academias científicas ao redor do mundo. O documento pode ser acessado no site da Royal Society .

Segundo a geneticista, uma conclusão importante do documento é que a edição gênica em embriões continua inaceitável. “Não há ainda domínio suficiente sobre a eficiência e segurança na modificação de genes na fase embrionária. Existe um risco enorme de, ao tentar editar-se um gene responsável por uma doença genética, alterar outros genes ao acaso, cujas consequências são imprevisíveis. E de transmitir essas alterações para as próximas gerações”.

Outra questão ética diz respeito a se se deve usar a tecnologia de edição gênica em embriões para condições que possam ser resolvidas por outros métodos. Essa questão remete ao escândalo de um pesquisador, que editou os genes CCR5 de dois embriões do sexo feminino para torná-las resistentes ao HIV. “Sabemos que há outros métodos para tratar HIV e, infelizmente, não temos informações sobre essas gêmeas, que devem agora estar com 5, 6 anos. Estão se desenvolvendo normalmente? Algum outro gene  foi alterado ao acaso? Por outro lado, eu defendo e defendi, no encontro internacional, que, para doenças letais, como a distrofia de Duchenne,  para a qual não há tratamento, a edição gênica em embriões portadores da mutação,  quando tivermos segurança em relação ao método CRISPR, seria muito importante. Não seria melhor corrigir a mutação ao invés de descartar os embriões portadores do gene defeituoso”?

Uma outra discussão relevante foi o custo altíssimo para tratar cada paciente. “Varia de um US$1 milhão ( para anemia falciforme) até  US$3,5 milhões  para hemofilia. Na minha opinião, é mais cruel dizer a um paciente que há um tratamento possível, mas não acessível, do que dizer que não há tratamento. Temos que mudar essa realidade”.

Fonte: Jornal da USP

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