Há uma frase famosa, do livro O Pequeno Príncipe, um clássico da literatura mundial, que diz: “o essencial é invisível aos olhos”. Há exemplos em nosso cotidiano que representam essa definição. Porém, no dia de hoje, é inevitável relacionar esse pensamento com a enfermagem. Nascemos pelas mãos de enfermeiros (as) ou, então, é deles que recebemos os primeiros cuidados. Também são esses profissionais que aplicam nossas vacinas e acompanham se elas estão em dia, a cada passagem pelas unidades de saúde. E quando estamos internados? São eles que atendem ao chamado da campainha nas longas madrugadas, para amenizar a nossa dor.
Como enfermeiro e cidadão, posso afirmar que somos essenciais para os sistemas de saúde. Mas fomos por muito tempo invisíveis aos olhos da sociedade e das autoridades, realidade que levou a Organização Mundial da Saúde a definir 2020 como o ANO DA ENFERMAGEM, no âmbito da campanha Nursing Now, com o objetivo de mostrar ao mundo a importância que a nossa profissão tem na garantia do acesso à saúde e, também, empoderar a categoria.
Para sensibilizar o mundo em torno desta causa, foram definidas como embaixadoras da campanha a Duquesa de Cambrigue, Kate Middleton; e a atriz Emilia Clarke. Escolher duas famosas e apaixonadas pela enfermagem foi uma estratégia adotada em busca de visibilidade, uma vez que em muitos lugares do mundo, a exemplo do Brasil, nosso papel não tem o devido reconhecimento. Apenas não esperávamos estar diante de uma pandemia, que mostraria de uma forma bastante cruel que o essencial já não era mais invisível aos olhos.
Com o início da disseminação da Covid-19, viralizaram fotos de profissionais de enfermagem que trabalham até a exaustão, com os rostos marcados pelos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). As histórias daqueles que arriscam suas vidas para salvar o próximo já não são mais do Batman ou da Mulher Maravilha. Novos super-heróis passaram a ser admirados e o mundo foi para as janelas para aplaudir a nossa categoria.
No Brasil não foi diferente. A pandemia chegou e trouxe um reconhecimento sem precedentes e, lamentavelmente, obstáculos que jamais enfrentamos antes, como a falta de EPIs; sobrecarga e uma nova forma de nos relacionarmos com os pacientes. Tivemos que reaprender a promover a humanização da assistência diante do isolamento e confortar famílias que já não sabem se voltarão a ver seus entes queridos para além da tela do celular.
Além de enfrentarmos a pandemia, convivemos com desafios antigos: a ausência de um piso salarial ou do adicional por insalubridade, exaustivas jornadas de trabalho e o esgotamento físico e mental. Para apoiar a enfermagem paulista, o Coren-SP dialogou com governantes sobre a necessidade de ampliar os investimentos em prol da segurança dos profissionais. Conquistamos a aprovação da emenda da Deputada Analice Fernandes, para a compra de EPIs, entre outras ações. Intensificamos as ações fiscalizatórias, acionando o Ministério Público do Trabalho, para que as instituições garantam condições adequadas para o exercício profissional. Disponibilizamos um chat, para sanar dúvidas em relação à Covid-19 e distribuímos máscaras N95 enviadas pelo Cofen nos hospitais públicos. Seguiremos lutando por melhores condições de trabalho, fator indispensável para uma assistência segura.
Somos gratos aos aplausos e homenagens mas, agora que superamos a invisibilidade, esperamos a devida valorização e um reconhecimento verdadeiro. Que o Brasil e o mundo não esperem por uma nova pandemia para enxergar a importância daqueles que sempre estiveram e estarão na linha de frente.
Parabéns a todos os profissionais de enfermagem não apenas por esse dia 12 de maio, mas por toda uma trajetória de dedicação à saúde.
* Cláudio Silveira é presidente em exercício do Coren-SP.
Texto publicado originalmente no site do Coren-SP
Textos, fotos, artes e vídeos do Marília do Bem estão protegidos pela legislação brasileira sobre direito autoral. Não reproduza o conteúdo do site, total ou parcial, em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do Marília do Bem ou do(a) autor(a). As regras têm como objetivo proteger o investimento que fazemos na qualidade de nosso jornalismo. Se precisar copiar um trecho de texto do Marília do Bem para uso privado, ou queira utilizar nosso conteúdo em alguma outra divulgação, envie um e-mail para editor@mariliadobem.com.br.