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Prefeito Daniel Alonso inventou um comitê técnico-representativo da sociedade para apoiar-se e reabrir comércio e prestação de serviço em Marília ler
O prefeito Daniel Alonso convocou empresários, líderes religiosos, entidades e profissionais da saúde, sindicatos, associações etc, a dedo, um a um, conforme seu interesse, para uma reunião na tarde da sexta-feira, 27 de março, no auditório do Gabinete da Prefeitura Municipal.
O evento foi a portas fechadas, com celulares no modo avião, sem gravação de vídeos, nem transmissão de lives ou gravação de áudios sob argumento da proteção de todos.
O assunto divulgado previamente da reunião era apresentar um balanço sobre a situação do novo coronavírus, bem como um planejamento de novas ações para evitar a chegada da doença em Marília.
Contudo, o prefeito Daniel abriu a reunião propondo a criação do Comitê de Enfrentamento ao Novo Coronavírus. Informou que ele seria criado e publicado por decreto ainda na sexta-feira. À toque de caixa, nomeou o conselho e já adiantou que havia quórum e deliberações a tomar.
Em seguida, apresentou um Plano de Retomada Gradual das Atividades do comércio e da prestação de serviços na cidade a partir de 1º de abril. Tudo sob pressão do “buzinaço” promovido lá fora, na Avenida Sampaio Vidal. Fingiu ser democrático ao solicitar remendos à proposta ao público presente.
Tudo isto era apenas pretexto para, sem nenhum preparo, o prefeito adotar o conceito de isolamento vertical para enfrentar a pandemia. A base da sua decisão foi nos princípios, sem evidência científica, da opinião do bolsonarismo. Mesmo contra os dados técnicos da pasta da Saúde.
Daniel Alonso desafiou o presidente Bolsonaro durante a semana, não conseguiu compromisso do governo federal para abrir o comércio e tratar dos doentes e, pela primeira vez, acovardou-se em favor da moeda contra a saúde pública. E fez o que o bolsonarismo exigiu.
O argumento vil, inaceitável, do prefeito é de que ninguém pode morrer pelo Covid-19, nem quer ver ninguém morrer de fome. Disse ele:
“Eu não sei o que é pior, se morrer de fome ou morrer de doença. A coisa vai ficar feia”.
Depois de investir no falso dilema entre saúde e fome, o prefeito Daniel Alonso fez sua escolha para nossa cidade:
“Isso aí. Se for pra morrer, morrer trabalhando, né Marcelo?”
A covardia do prefeito foi disfarçada pelo objetivo de enfrentar o vírus da Covid-19 e da devastação da economia local ao mesmo tempo. Só que os presentes na reunião foram claros: a área de Saúde em Marília não tem se quer EPI (Equipamento de Proteção Individual), ou seja, máscaras, aventais, álcool em gel, para atenção básica para preparar a mão de obra (enfermeiros, técnicos de enfermagem, médicos, etc.) para a “guerra”.
Imagine ventiladores para UTI’s. Hoje não há no mercado, mesmo que se tenha dinheiro para comprar. Pra que vale então o dinheiro, prefeito?
Negar as evidências empíricas apresentadas por dados científicos é adotar um caminho covarde, leviano, que arrisca a vida de milhares de cidadãos marilienses.
O novo coronavírus tem uma combinação de caracteres que dificulta seu combate: altíssima infectividade com sintomas e virulência leves aos jovens. Entretanto, periculosidade alta com morte aos grupos de risco, maiores de 60 anos, comorbidades preexistentes e gente com deficiência imunológica. Para completar, não tem vacina e nem medicação comprovada que possa curar a infecção. Há tentativa e erro.
Portanto, aos de boa fé e para os ineptos, que fique claro: a defesa de isolamento vertical é uma ilusão. Para aqueles que entendem do assunto, a ilusão transforma-se em perversão. Os exemplos dos Estados Unidos, do Reino Unido, da Espanha, da Itália estão aí para provar.
O isolamento social por um período na China praticamente resolveu o problema. É o único meio eficaz e comprovado para enfrentar o vírus. Marília estava no caminho certo. Como também outros diversos prefeitos corajosos pelo Brasil, como Bauru, Cuiabá, Florianópolis, Curitiba, Campo Grande, etc.
Quem pensa de verdade em salvar a economia, o caminho é o isolamento social. Do contrário, chegaremos ao caos com a falência do Sistema de Saúde, com as milhares de mortes e as medidas mais amargas que terão de ser tomadas no município pela irresponsabilidade e covardia.
Apenas para ilustrar, na Itália, teve cidade que 100% da população foi infectada. Se 25% em Marília se contaminarem, serão mais de 50 mil pessoas com uma “gripezinha”. Caso apenas 1% evoluir para casos graves, serão 500 pessoas precisando de UTI’s na hora. Fora o atendimento às cidades vizinhas.
De maneira irresponsável, o prefeito abandona o que está dando certo e investe no duplo combate falacioso à doença e em salvar a economia. Mas como? Baseado em que? É possível precificar uma vida? Qual o custo gerado em nossa sociedade pela inevitável contaminação em massa? Como a sociedade haverá de se equilibrar economicamente em meio ao trauma social e individual da morte? Vamos consumir em massa, ao compasso de uma marcha fúnebre coletiva?
Covardia, irresponsabilidade e veleidade pessoal na liderança política conduz o povo ao martírio.