Colunista reflete sobre cenas da reabertura do comércio
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Wisnik se vale do poema de Drummond, “Inocentes do Leblon”, para comentar a respeito de duas imagens motivadas pela reabertura de nossas cidades: uma em Botucatu (interior de SP) e outra no Leblon (RJ) ler
Aproveitando o momento em que as cidades dão início ao processo de reabertura, o professor Guilherme Wisnik chama a atenção, em sua coluna, para duas imagens que o surpreenderam negativamente: a primeira delas mostra o shopping center de Botucatu povoado de carros para a compra em drive-thru, algo que transforma o cidadão que frequenta o espaço no próprio carro, “uma imagem distópica, mas bastante real”. A outra imagem tem a ver com a reabertura da noite no Leblon, com bares lotados de pessoas, representantes da elite carioca.
“Essa elite do Leblon, que está circulando sem máscara, que está ali tomando cerveja descompromissadamente, está atestando, como o presidente, um péssimo exemplo para todos e está mostrando, de forma grotesca, que ela é privilegiada.” Enquanto isso, a população da periferia das cidades, a mais afetada pela pandemia, morre às pencas, obrigada que é a se expor no transporte público para se dirigir ao trabalho, como fazem os garçons e cozinheiros daqueles bares frequentados por aquela elite que se julga detentora de todos os direitos.
“À custa da doença dos pobres e das suas mortes, a nossa elite vai se beneficiar, e esse é o projeto eugenista de nosso governo”, diz Wisnik, sem esquecer de observar que esse projeto vem de longa data. Para concluir sua reflexão, ele cita um poema que, acredita, ilustra bem o seu comentário: Inocentes do Leblon, de Carlos Drummond de Andrade.
Fonte: A coluna Espaço em Obra, com o professor Guilherme Wisnik, vai ao ar toda quinta-feira às 9h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7 FM; Ribeirão Preto 107,9 FM) e também no Youtube, com produção do Jornal da USP e TV USP.