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Ciência

Azul pálido, azul profundo: como Urano e Netuno obtêm suas cores

A presença de uma camada de névoa de metano adicional em Urano produz as aparências diferentes ler

03 de junho de 2022 - 19:00

As rosas são vermelhas. Netuno é azul profundo.

Por que Urano não é também?, os cientistas se indagavam.

É uma pergunta intrigante. Urano e Netuno, os dois planetas mais externos do nosso sistema solar, são gigantes de gelo —mundos frios feitos de gás e gelo, com composições químicas semelhantes.

Eles também não são muito diferentes em massa, sendo a de Urano 15 vezes maior que a da Terra e a de Netuno, 17 vezes. E ambos têm aproximadamente quatro vezes o tamanho da Terra, sendo Urano um pouco maior.

No entanto, os dois mundos parecem decididamente diferentes. Urano, como foi revelado pela primeira vez pela nave espacial Voyager 2 da Nasa em 1986, é uma bolha azul-clara sem características especiais.

Quando a mesma espaçonave encontrou Netuno em 1989, revelou um mundo com os ventos mais poderosos do sistema solar, que rasgam uma atmosfera azul real, com tempestades gigantes e até uma misteriosa mancha escura. Por que a diferença?

Patrick Irwin, físico planetário da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e seus colegas desenvolveram uma resposta. Eles reuniram um conhecimento minucioso da atmosfera de cada mundo usando o telescópio Gemini North no Havaí, o Telescópio Espacial Hubble e outras observações.

Os dois planetas são azuis porque possuem metano em suas atmosferas, gás que absorve a cor vermelha da luz do Sol. Mas uma camada média de névoa de metano em Urano parecia ser duas vezes mais espessa que a camada de Netuno. É a presença dessa névoa adicional que produz as aparências diferentes.

“Essa neblina tem um aspecto meio esbranquiçado”, disse Irwin. “Por isso Urano parece mais pálido que Netuno.”

Imagem de Netuno com seu azul profundo feita pela Voyager 2 em 1989

A pesquisa foi publicada no Journal of Geophysical Research: Planets.

Imke de Pater, cientista planetária na Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA), disse que a descoberta faz sentido. “A abundância de metano nos dois planetas é muito semelhante”, disse ela. “Algo tem que explicar a diferença de cores.”

Por que Urano tem uma camada de neblina mais espessa que a de Netuno pode ser resultado de um impacto gigante no início de sua existência que inclinou o planeta, disse Leigh Fletcher, cientista planetário na Universidade de Leicester, no Reino Unido, e coautor do estudo.

“Toda a sua energia e fontes de calor internas podem ter sido liberadas naquela enorme colisão”, disse ele. “Então, o que vemos hoje é um mundo mais estagnado.”

Ambos os mundos perderiam neblina conforme o gelo de metano a puxasse para a atmosfera inferior, caindo como neve de metano. Mas em Netuno, mais ativo, a neve de metano cai com maior frequência, levando a uma camada de neblina mais fina.

Erich Karkoschka, cientista planetário na Universidade do Arizona (EUA), disse que “não faria essa suposição”, que a colisão de Urano com outro objeto explicaria por que ele é menos ativo que Netuno. Ele sugeriu que os planetas podem ser diferentes o suficiente fisicamente para explicar as diferenças em suas atmosferas.

O trabalho também pode explicar a origem das vastas e misteriosas manchas escuras de Netuno, disse Irwin, que parecem ser causadas por um escurecimento das partículas de neblina, possivelmente devido à evaporação do gelo de sulfeto de hidrogênio.

Um futuro orbitador e sonda atmosférica de Urano são uma prioridade da Nasa, a ser lançados na década de 2030. Eles poderiam revelar mais aos cientistas sobre as camadas de neblina, assim como as observações com o Telescópio Espacial James Webb.

“Ainda há muita incerteza”, disse Irwin. “Nós realmente não sabemos de que são feitas as partículas. A única maneira de realmente saber o que está acontecendo é lançar uma sonda nessas atmosferas profundas.”

Fonte: Jonathan O’Callaghan – The New York Time

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