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Algumas fatias de experiências da escola da vida dos(as) insaciados(as) de pão, fé e esperança das periferias sociais de Marília ler
Algumas fatias de experiências da escola da vida dos(as) insaciados(as) de pão, fé e esperança das periferias sociais de Marília. Católicos e espíritas compartilham solidariedade em rara iniciativa sob o mesmo teto. Vacinada, população de rua aguarda pela imunização à indiferença ainda em tempos de pandemia.
Seu nome é José e passa fome. É Renato e quando o veem passam adiante. É Valdemir e dorme pelas beiras das calçadas. É Joaquim* e já viveu atrás das grades da cadeia. É Natanael e está mendigando um subemprego.
Entre nós estão estes e dezenas de outros que, neste domingo (3), não foram deixados para trás por quem estava apressado para chegar depressa à igreja porque já estavam lá, na quadra coberta da Matriz de Santo Antonio.
Homens, mulheres, crianças e pets foram reunidos como se fossem “uma igreja pobre com e para os pobres”, segundo a utopia do Papa Francisco, em uma rara ação de prestação de serviços promovida por católicos e espíritas.
Enquanto tiveram a oportunidade de estarem em uma mesma comunidade de fé, moradores de rua e de favelas da cidade aferiram a pressão arterial, cortaram o cabelo, se alimentaram – houve quem renovasse a fé na igreja e na vida.
Recorte de solidariedade: profissionais e salões de beleza da cidade ofereceram serviços gratuitamente
Entre um serviço e outro, o blog ouviu relatos daqueles que, chamados de tantos nomes, não são reconhecidos pelos seus, ambulantes pela invisibilidade de suas próprias histórias – algumas delas, relatadas aqui.
Nestes tempos quaresmais, em que a fraternidade e a educação perambulam juntas em campanha até a próxima Páscoa, confira lições de vida de famintos de pão, fé e esperança – a quem aquela velha canção também chama de Jesus Cristo.
CORAÇÃO DE MÃES
Catadoras de materiais recicláveis, Eliana Aparecida Gomes, 53 anos, e Lucia Correia, 45, têm teto para ficar embaixo. Mas não estão sozinhas. Onde cabiam poucos, a solidariedade de ambas se incumbiu de acrescentar mais.
“Tenho casa, filhos. Pus uma mulher com suas duas crianças para morar com a gente faz pouco tempo. Agora somos em dez”, soma Eliana. “É só meu genro que trabalho. E eu cato reciclagem nas ruas”.
É das latinhas, plásticos e papelões que Lucia retira seus recursos divididos agora com mais um morador inesperado no lar. “É um idoso. Pagava aluguel, não conseguiu mais e como estava ficando esclerosado eu acolhi”, contou. “A gente ganha cesta básica de um e de outro e vamos vivendo”.
‘PAIS’ DE PETS
Os moradores da avenida Brasil, no centro, compareceram em peso na ação solidária na Santo Antonio. De lá vieram grupos de amigos, casais – e, claro, seus cachorros, que zanzaram por todo o salão e tiveram atendimento à parte.
Casa cheia: moradores de rua lotaram quadra coberta da Santo Antonio em ação social neste domingo (3)
Os amigos de rua Valdemir de Oliveira, 35 anos, e Marcos Munhoz, 43, levaram consigo os pequenos Beethoven e Chiquinho – sem raça definida. Ambos sobreviveram, dizem, de uma cadela prenha atropela. Outro filhote não resistiu.
“Ganhamos o leite para tratar de um e acabamos cuidando dos dois”, falou Valdemir, que diz ser pai se seis filhos – com idades entre 8 a 22 anos – deixados para trás por conta de vícios. “Eu sou um dependente químico. Preciso me apegar a Deus por minha família. É o que eu posso fazer agora”.
DIVIDIR O PÃO
Além dos cãezinhos, Munhoz tem outros ‘colegas de rua’ a cuidar para que sobrevivam nas ruas. Entre eles, José Roselim, 48 anos – mas aparência de 60 pelo rosto curtido pelo sol – recém-chegado de Paraguaçu Paulista (SP).
Na condição de migrante, Roselim diz nem sempre ter acesso à alimentação cedida pelo município aos moradores de rua. “Tem vezes que não almoço e dou minha marmita a ele para que não passe mal”, contou Munhoz.
Fome de pão: voluntários proporcionaram um dia de fartura à mesa daqueles que nada têm a retribuir
O visitante, por sua vez, conta que recorre à venda de balas nos semáforos para “levantar algum dinheiro”. O nariz protuberante e a sobrancelha expõem feridas de um tombo recente. “A ‘Catia’ passou o rodo em mim”, disse, aos risos, acusando a cachaça pela aparência machucada.
POR DIAS MELHORES
Faz apenas uma semana, a área arborizada entre a rodovia no contorno e a avenida Féres Matar, no Fragata, recebeu a instalação de uma pequena barraca – o novo ‘lar’ de Natanael Ferreira, 27 anos e Natalia Silva, 22.
O casal veio de Itumbiara (GO), por recomendação de um suposto amigo que disseram ter sabido que morreu tão logo chegaram à cidade. O filho de apenas 4 anos ficou com a mãe. “O mais difícil é ficar longe dele”, disse Natália, às lágrimas.
Natanael diz ter formação em metalurgia. Enquanto não consegue um emprego, recolhe recicláveis. “Faço R$ 30, R$ 40 por dia”, contabilizou. O casal planeja juntar um dinheiro para alugar um barraco em alguma favela. “É o que podemos pagar”, diz Natalia.
ANDARILHO, SIM; LADRÃO, NÃO
Faz apenas cinco meses que Renato, 42 anos, diz estar nas ruas desde o falecimento da mãe. Avaliou sua nova realidade como “boa” pela liberdade, mas perigosa “pelo risco de alguém fazer alguma covardia”.
De sua rotina atual como andarilho, ele conta “ficar bravo” toda vez que percebe alguém mudar de calçado ao avisá-lo à frente. “Outro dia uma mulher guardou rápido um celular na bolsa. Falei na hora: ‘não sou ladrão!’”.
Apesar de admitir estar “no caminho das drogas”, Renato mantém a vida com a dignidade como pode: toma suas refeições no Bom Prato, do governo estadual e banho no Centro Pop, mantido pela prefeitura. “Eu cuido da minha higiene”.
REGRESSO À VIDA
Encontramos Joaquim (nome fictício) sentado sobre um saco de garrafas plásticas debaixo do sol de meio-dia, próximo à porta de entrada do salão da igreja. Havia voltado para almoçar. Preferiu, antes, atender ao blog.
Autorizou a gravação, mas não recomendou que tivesse o nome divulgado. “Acabei de ‘puxar’ oito anos. Não quero mais essa vida”, disse. Aos 34, disse ter enfrentado a prisão pela 2ª vez. Aos 18, teria sido “fechado” por 2 anos e quatro meses.
Alegou inocência em ambos os casos, relacionados a entorpecentes. “Comecei a fumar maconha com oito anos e crack aos dez”, contou. Agora, quer se livrar da cocaína. “Quero ficar limpo para tirar minha carteira de habilitação”, disse.
DESEJO DE ESTUDAR
Entre aqueles que desejam guiar-se por outros caminhos na vida estaria um jovem que manifestou o desejo de prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), segundo relatou o bispo de Marília, Dom Luiz Antonio Cipolini ao blog.
Tempo de escuta: bispo de Marília, Dom Luiz Antonio Cipolini, acolheu moradores, de mesa em mesa
“Foi um relato que me chamou muito a atenção. Mesmo em situação de rua, ele falou em estar estudando para esta prova”, afirmou o bispo. “Percebi das pessoas um desejo de melhora de vida, de caminhar, progredir”.
O bispo passou por várias das mesas dispostas na quadra coberta. Sentou-se para ouvir, aconselhou, abençoou objetos que lhe entregaram. Acompanhado por alguns padres, almoçou e logo depois partiu.
PARCERIA ESPÍRITA
A ação solidária deste domingo (3) foi organizada por uma equipe de coordenadores de paróquias que contam com a Pastoral de Rua. A exemplo da edição anterior, realizada antes da pandemia, em 2020, os católicos tiveram a parceria dos espiritas que desenvolvem semelhante trabalho semelhante.
Desta vez, estiveram representados os centros espíritas Chico Xavier e Semeadores de Luz e o grupo Doação e Amor. “O que nos une é o amor. As pessoas que realmente amam se entendem, independentemente de religião”, avaliou o bispo.
Pão de cada domingo: equipe da Pastoral da Solidariedade do Santuário Nossa Senhora da Glória
Paróquias, centros e pastorais têm o domingo como dia comum de doação de alimentos às pessoas em situação de vulnerabilidade. No último do mês, os católicos da Glória levam cerca de 80 cestas básicas a moradores do distrito de Rosália.
“Na própria igreja, a gente atende uma média de 80 pessoas todo domingo”, afirmou o coordenador Moisés Darlan da Silva, 57 anos. São servidos pão com mortadela, café com leite ou puro.
Já os frequentadores dos centros espíritas e os paroquianos da Santa Rita de Cássia – estes últimos, em parceria quinzenal com os da Sagrada Família, da zona norte – percorrem as ruas com suas marmitas.
Espírito de parceria: Grupo ‘Doação e Amor’ juntou-se a católicos para atendimento de moradores de rua
“A importância não é só levar o prato de comida. Antes, a gente conversa, e tenta fazê-los entender que a rua não é o melhor caminho”, afirmou Edilson Barretos, 55 anos, uma das lideranças espíritas desta iniciativa.
Barreto afirmou que a proximidade com os católicos se deu no próprio trabalho de campo. “Nós nos conhecemos nas ruas. A pastoral servia no mesmo horário e o padre Tiago (Aparecido de Souza Barbosa) nos convidou para atuarmos juntos. E assim estamos”.
Atual vigário da Paróquia Santa Rita de Cássia, o padre agradeceu o esforço de todos os envolvidos. “Ver a união de nossos agentes de pastoral, o empenho deles, a comunhão com os nossos irmãos espíritas, tudo pelo bem dos moradores de rua, é algo que me enche de gratidão a Deus e a todos”, afirmou.
MAIORIA VACINADA
Quarenta alunos da Universidade de Marília (Unimar) – 20 de Enfermagem e 20 de Medicina – se revezaram na aferição de pressão arterial e na orientação sobre cuidados em geral com a saúde aos moradores de rua.
“Muitos apresentam alteração porque não tomam o medicamento adequado”, observou a coordenadora de Enfermagem, Tereza Laís Menegucci Zuttin. “Uma pessoa chegou a passar mal por não ter se alimentado há três dias”, citou.
Saudável generosidade: alunos de Medicina e Enfermagem da Unimar aferiram pressão e orientaram moradores
Em relação à pandemia, uma constatação chamou a atenção dos universitários: a ampla maioria dos que buscaram atendimento informou não ter contraído Covid-19, na mesma proporção em que disseram ter se vacinado.
A Prefeitura de Marília informou ter imunizado cerca de 70 pessoas em situação de rua, ainda em junho de 2021. Desde então, essa população tem sido monitorada pelo município através de abordagens das equipes da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social.
Este artigo foi publicado originalmente no Blog do Rodrigo.
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