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A movimentação dos “panelaços” e seus desdobramentos
Singer identifica duas estratégias que surgiram após o que chama de “descolamento entre a sociedade e o mundo da política” ler
Em sua coluna, o cientista político André Singer volta a refletir sobre os “panelaços” que têm acontecido em várias capitais do País contra o presidente Jair Bolsonaro. Na opinião dele, ocorreu uma espécie de descolamento entre o que se poderia chamar de movimentação da sociedade e aquela do mundo da política. Segmentos de classe média que deram seu apoio a Bolsonaro nas últimas eleições começaram a se posicionar contra o chefe de governo, mas isso parece não ter se refletido no meio político. A partir dessa constatação, Singer identifica duas estratégias que podem estar ocorrendo. Na primeira delas, o mundo da política não deseja afastar Bolsonaro do cargo, apenas isolá-lo dentro do próprio governo, “algo como tentar transformar o presidente Bolsonaro numa rainha da Inglaterra”. Isso explicaria o fato de o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ter ganhado força em setores do governo, a despeito do descontentamento, já manifestado pelo presidente, em relação à sua atuação à frente da pasta.
A outra estratégia envolve os partidos colocados mais à esquerda do espectro político, os quais se unificaram, depois dos “panelaços”, em um manifesto a favor da renúncia de Bolsonaro. “Aí sim, há uma proposição de que ele saia.” No entanto, Singer vê algo peculiar nesse pedido de renúncia, “porque não há nenhum sinal, pelo menos até aqui, de que o presidente Bolsonaro vá renunciar”. Pelo contrário, a tendência é de que ele siga adiante com seu projeto, que Singer considera radical e contra os valores democráticos. Para o cientista político, o presidente pode até recuar, em alguns momentos, mas não dá sinal de que vá arrefecer.
Fonte: A coluna Poder e Contrapoder, com o professor André Singer, vai ao ar toda quinta-feira às 9h, na Rádio USP (São Paulo 93,7 FM; Ribeirão Preto 107,9 FM) e também no Youtube, com produção do Jornal da USP e TV USP.