A diversidade dos sobrenomes brasileiros revela nossa história multicultural
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A diversidade dos sobrenomes brasileiros revela nossa história multicultural
Especialista aponta que sobrenomes refletem raízes portuguesas, africanas, indígenas e presença de imigrantes no país ler
Os sobrenomes que carregamos diariamente não são apenas identificadores familiares. Eles são fragmentos vivos da história do Brasil, marcados por heranças culturais, migrações, colonizações e lutas por identidade. De acordo com a linguista Maria Célia Lima-Hernandes, doutora em Letras pela USP e especialista em antroponímia, os sobrenomes brasileiros se distribuem em categorias que ajudam a contar a formação histórica e social do país.
Uma das categorias mais comuns é a dos sobrenomes toponímicos, que derivam de lugares geográficos. Nomes como Oliveira, Braga ou Coimbra têm origem em cidades ou elementos da paisagem, especialmente de Portugal, e eram usados inicialmente para indicar o local de origem dos indivíduos. Com o tempo, esses nomes passaram a ser transmitidos hereditariamente, simbolizando vínculos de pertencimento e origem territorial. Essa prática foi amplamente adotada no Brasil durante o período colonial, como uma forma de manter a identificação com as regiões de origem europeia.
Outro grupo expressivo é o dos patronímicos, ou seja, sobrenomes que indicam filiação, geralmente masculina. Fernandes, Gonçalves, Rodrigues e outros nomes que terminam em “-es” ou “-ez” são exemplos clássicos — significam “filho de Fernando”, “filho de Gonçalo”, “filho de Rodrigo”. Essa convenção veio da Península Ibérica e reforçava a estrutura patriarcal vigente, sendo amplamente replicada no Brasil colônia. Muitos desses nomes foram adotados por indígenas e escravizados batizados sob o domínio europeu, apagando suas identidades originárias.
Há ainda os sobrenomes ocupacionais ou descritivos. Ferreira, Carpinteiro, Lobo, entre outros, nasceram de profissões, características físicas ou traços de personalidade. Um “Ferreira” poderia ter sido descendente de um ferreiro; um “Lobo” talvez tenha sido um apelido transformado em nome de família. Essa categoria mostra como aspectos do cotidiano também serviram como base para a formação dos sobrenomes, refletindo a sociedade e suas funções.
Os sobrenomes mais comuns no Brasil — como Silva, Santos, Souza e Oliveira — têm histórias próprias e simbólicas. Silva, o mais popular de todos, significa “selva” ou “mata” em latim. Era muito usado por cristãos-novos e, após a abolição da escravidão, por ex-escravizados que não possuíam sobrenomes herdados e precisavam adotar um. Com isso, Silva tornou-se um símbolo tanto de anonimato quanto de sobrevivência.
A presença africana e indígena na onomástica brasileira é evidente, embora muitas vezes mascarada. Escravizados trazidos da África frequentemente recebiam sobrenomes portugueses ao serem batizados — geralmente os nomes de seus senhores ou os da igreja católica. Nomes como de Jesus, Batista ou dos Santos são resultado desse processo. Já os indígenas, ao serem catequizados, também eram rebatizados, muitas vezes perdendo seus nomes originais em troca de sobrenomes europeus. Essas imposições refletem o apagamento sistemático das identidades nativas e africanas, mas também mostram os caminhos de resistência e adaptação.
Com a chegada de imigrantes no final do século XIX e início do século XX, a diversidade aumentou ainda mais. Sobrenomes italianos como Bianchi, Rossi e Ferrari; alemães como Müller e Schmidt; e japoneses como Tanaka ou Yamamoto passaram a integrar o repertório brasileiro. Esses nomes ajudaram a compor o mosaico étnico-cultural que caracteriza o Brasil contemporâneo, e são especialmente comuns em determinadas regiões, como o Sul e o Sudeste.
Segundo pesquisas linguísticas, cerca de 87% dos sobrenomes brasileiros têm origem ibérica. Ainda que a maioria da população não descenda exclusivamente de portugueses ou espanhóis, a dominação colonial e as práticas de batismo e registro civil impuseram essas heranças nominais. A verdadeira ancestralidade genética dos brasileiros, muitas vezes, não é visível nos nomes que carregam. Isso revela como os sobrenomes podem ser, ao mesmo tempo, reveladores e limitadores na compreensão de nossas origens.
A linguística onomástica nos ajuda a entender como os nomes falam mais do que aparentam. Eles contam histórias de migração, conversão religiosa, escravidão, resistência e adaptação. Ao investigar os sobrenomes, estamos também desvendando camadas da história do Brasil — suas violências, mas também suas integrações e sincretismos.
A curiosidade sobre a origem dos nomes de família pode despertar um movimento pessoal e coletivo de busca por identidade. Através de registros históricos, arquivos genealógicos e entrevistas familiares, é possível traçar caminhos que conectam o presente às raízes do passado. Afinal, cada sobrenome é uma história esperando para ser contada.
Redação: Guilherme Silva Domingues
Revisão: Ruan Cezar Barbosa