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A disputa ideológica e fashion dos bonés
Que vai do Oscar a Brasília e reflete a polarização política no Brasil ler
Criado originalmente para o beisebol, o boné agora se consolida como um objeto de disputa ideológica no Brasil. A recente “guerra dos bonés”, que já influenciou eventos internacionais como o Oscar, agora chega ao Congresso Nacional e movimenta a produção da peça no país. Como representado na charge de Fred Ozanan, o boné se tornou um símbolo de discursos políticos, muitas vezes resultando na manipulação do eleitorado.
No andar subterrâneo da Galeria do Rock, em São Paulo, o som das máquinas de bordado não para. Graziele Ferreira, comerciante que trabalha há 15 anos com confecção de bonés, explica:
“É que agora funciona assim: bombou na internet ou no noticiário, logo vai parar na cabeça dos brasileiros”.
Nos últimos meses, pedidos por bonés vermelhos inspirados no slogan de Donald Trump, “Make America Great Again”, cresceram significativamente, tanto em apoio quanto em versões irônicas. Também houve procura pelos bonés laranjas do álbum Caju, da cantora Liniker, e pelo acessório estampado com a frase “a vida presta”, dita por Fernanda Torres após sua indicação ao Oscar.
A disputa chegou oficialmente à política brasileira. O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, encabeçou o movimento dos parlamentares governistas, que passaram a usar um boné azul com os dizeres “O Brasil é dos brasileiros”. Segundo Padilha, a frase foi escolhida pelo marqueteiro petista Sidônio Palmeira, atual chefe da Secretaria de Comunicação do governo Lula. Em resposta, deputados bolsonaristas lançaram bonés com a frase “comida barata novamente”, em crítica à inflação dos alimentos.
A reação do mercado foi imediata. Artur Pinheiro, sócio da empresa Seu Boné, revelou:
“Apesar de não trabalharmos com pedidos individuais, temos recebido contatos nas redes sociais, de pessoas dos dois lados [do espectro político]”.
O novo presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), criticou a situação:
“Boné serve para proteger a cabeça do sol, e não para resolver problemas do país”.
No entanto, especialistas discordam da visão de Motta. Gustavo Berti, pesquisador do Ecomuseu do Boné na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), destaca o poder simbólico do acessório:
“Na hora que você está interagindo com uma pessoa, o boné meio que te obriga a interagir com ele também. O boné está ligado à forma que uma pessoa interage com o mundo, e é aí que entra o boné como um meio de propagação ideológica”.
A cidade de Apucarana (PR), conhecida como a “capital nacional dos bonés”, é um reflexo dessa tendência. Produzindo entre 3 e 4 milhões de bonés por mês, a indústria local se destaca pela rapidez na resposta às demandas do mercado. Jayme Leonel, coordenador do Arranjo Produtivo Local (APL) de Bonés, enfatiza:
“É um mercado muito dinâmico, ainda mais com a internet. Em cinco dias, conseguimos entregar o que a China levaria 40”.
Seguindo essa tendência, fábricas locais já estão produzindo os bonés azuis usados pelos apoiadores do governo Lula.
A charge de Fred Ozanan sintetiza essa disputa: enquanto figuras políticas promovem seus discursos, o cidadão comum, simbolizado pelo personagem central, se torna o “trouxa” da história, manipulado por narrativas que pouco impactam sua realidade concreta. A “guerra dos bonés” segue refletindo a polarização política no Brasil e reforça como um simples acessório pode se tornar um campo de batalha ideológico.
Leia também: Lula e Bolsonaro disputam batalha fashion em roupas e acessórios
Revisor: Diogo A. Cirillo
Reprodução Imagem: Charge Fred Ozanan: Guerra dos bonés/Vitor Tavares-BBC/Amazonasatual.com